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Gleisi Hoffmann: "Sergio Moro merece e precisa ser cassado, seria pedagógico"

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, a presidente nacional do PT avalia o Governo Lula, alerta para perigos do bolsonarismo e comenta possível disputa por uma vaga no Senado caso o ex-juiz seja cassado

Gleisi Hoffman (PT-PR), presidente nacional do PT.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A ex-líder estudantil nascida em Curitiba, Gleisi Hoffmann, que hoje ocupa as posições de deputada federal e presidente nacional do PT, tem estado com o nome na boca da militância nas últimas semanas. Isso ocorre por conta da iminente cassação do ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sérgio Moro, do seu atual mandato como senador pelo Paraná. Caso Moro seja afastado, novas eleições seriam chamadas no Estado para o cargo, e nomes como o de Gleisi pelo PT e Michelle Bolsonaro pela extrema-direita têm sido ventilados como possíveis candidaturas. Em entrevista para a Fórum, Gleisi diz que Moro "merece e precisa ser cassado", que tal situação seria "pedagógica, e que está pronta para uma possível disputa com a reluzente ex-primeira-dama caso seja essa a vontade do partido, mas que ainda não há qualquer conversa nesse sentido. Também fez uma avaliação do primeiro ano deste novo Governo Lula e reiterou alertas a respeito dos perigos do bolsonarismo.

Confira a seguir os principais trechos de entrevista com Gleisi Hoffmann ao programa Fórum Onze e Meia.

Prévia do PIB e momento econômico do país

O resultado do PIB nesse terceiro trimestre mostra uma desaceleração da economia. Mas ainda assim a gente está com um PIB maior do que aconteceu em 2022. E acho que até esse anúncio de 0,1 frustrou muito as forças de mercado, porque a maioria dizia que seria PIB negativo. Então, eu acho que mostra que tem um esforço muito grande do governo para que a gente possa fazer a economia girar.

A gente teve queda na agropecuária, que já era esperado, porque cresceu muito nos trimestres anteriores, mas tivemos aumento de serviço e de consumo das famílias, o que é bom, e um pouco de consumo de governo.

Onde é que foi a queda maior? Em investimentos, justamente o componente do PIB que precisa de uma política creditícia, boa, que precisa de juros baixos. Então, de novo, nós vemos aqui a perversidade da atuação do Banco Central em manter as taxas de juros na estratosfera. Isso está nos levando a ter uma desaceleração e pode comprometer a economia do ano que vem. A situação acende também o sinal de alerta para o governo.

O governo vai ter que focar em uma coisa que seja principal para ele, que, ao meu ver, é uma meta, mas não a fiscal. É a meta de crescimento econômico, a meta de desenvolvimento social, para a gente não perder emprego e não perder esse crescimento do PIB que nós conseguimos fazer esse ano, embora ele tenha um componente grande ainda da agropecuária, mais concentrados em regiões.

Ter esse foco é fundamental para o governo, para que a gente possa, ano que vem, entregar um PIB parecido com esse, ou até maior. Eu acho que a gente precisa, para fazer todas as entregas ao povo brasileiro, ter um PIB de 4% ou mais. Mas é importante dizer que a torcida negativa do mercado não se consolidou.

Programas sociais

Acho que o governo conseguiu fazer muita coisa. Todos os programas que a gente tinha nos governos anteriores foram reestruturados. Claro que alguns ainda vão demorar um pouco para ter consequência na vida das pessoas, ter resultados, principalmente quando você pega a parte de investimento.

Por exemplo Minha Casa Minha Vida, rodovias, construções; tudo isso ainda demora um pouco para as pessoas sentirem. Mas tem outros que já foram sentidos e que, no meu ver, foram muito importantes para a gente ter o resultado da economia desse ano. Primeiro, o aumento real do salário mínimo foi fundamental, porque isso tem um impacto na vida do povo, principalmente dos aposentados, que são milhões de pessoas, e que ganham de um a dois salários mínimos no máximo.

Quando você dá um aumento real do salário mínimo, você tem impacto na economia, você faz um multiplicador econômico, o consumo melhora, isso está sendo mostrado agora, nesse terceiro trimestre, o último de avaliação do PIB. A questão do Bolsa Família reestruturado, além de manter os R$ 600, o governo acoplou mais R$ 150 para crianças até seis anos e mais R$ 50 para adolescentes.

A desoneração da tabela do imposto de renda, que a gente chama de reajuste, estava em um salário, quem não pagava imposto de renda, o governo subiu para dois salários. Também aumenta a renda, também é importante. O desenrola, a melhoria do farmácia popular, enfim, é uma série de medidas e programas que já tiveram efeitos, que, ao meu ver, foram fundamentais para que a gente tivesse o resultado do PIB desse ano e para que aumentasse um pouco o consumo das famílias e aumentasse também a área de serviço.

“Não somos mais um pária internacional”

Outro aspecto positivo desse primeiro ano de governo é a reinserção do Brasil no cenário internacional. Tem sido um sucesso a COP o posicionamento do Brasil, do presidente, dos ministros, enfim, eu acho que o Brasil ganhou muito com isso e ganhou muito também nas viagens que o presidente fez.

E fez viagens para trazer gente que invista aqui, que é o que a gente precisa. Nós precisamos de investidores, gente que acredite no Brasil. Então, cada vez que o presidente vai fazer uma viagem, ele abre muitas portas para os negócios brasileiros. Aquela que ele fez na China foi fenomenal, principalmente para o agronegócio brasileiro. Muitas plantas lá foram abertas para fazer exportação.

Acho que o Brasil deixa de ser um pária internacional e passa a ser um agente ativo na política internacional, um jogador forte.

“Bolsonarismo continua atuando”

Em termos políticos, nós temos que enfrentar um problema que é a própria disputa política. A nossa oposição, que é a extrema-direita, o bolsonarismo, não está suplantada, muito pelo contrário. Nós vencemos o Bolsonaro, conseguimos tirá-lo da presidência da República em uma das eleições mais difíceis das nossas vidas, muito dura, mas o bolsonarismo está aí, e continua atuando.

Temos que ser mais intensivos na disputa política, tanto o PT, e a gente tem tentado fazer isso, como o próprio governo, porque tem que disputar e dizer o que o Bolsonaro deixou de fazer e o que fez de errado cada vez que a gente lançar um programa.

Eles existem, estão aí fazendo a disputa política todos os dias, com fake news, agredindo o presidente e o governo. Essa gente faz mal ao Brasil, faz mal ao povo brasileiro, eles têm que ser punidos pelo que eles cometeram.

Comunicação do PT e fake news bolsonaristas

A gente deu uma melhorada muito grande na comunicação do PT. Hoje, o PT é um partido que tem as maiores redes entre os partidos, seja do Facebook, do Instagram, enfim, de todas as plataformas, e é um partido que procura informar sua militância.

Acho que temos que fazer mais um enfrentamento político do que midiático. A questão das fake news também está relacionada a isso. Nós estamos reestruturando isso agora, ou seja, nós vamos voltar a ter uma ação mais parecida com o que a gente teve na campanha, de enfrentamento, de jurídico, para não deixar essas fake news prevalecerem. E isso também movimenta as nossas redes.

Agora, é claro que o PT tem uma limitação de chegar ao público, porque é o PT. Então, as pessoas que nos ouvem são as pessoas que têm simpatia por nós, que gostam de nós, não só os filiados, mas que têm simpatia. Precisamos aumentar essas pessoas simpáticas a nós. E isso tem a ver com o nosso posicionamento e tem a ver também com os próprios resultados do governo do presidente Lula.

Moro será cassado?

Um juiz que pregava a moralidade mostrou que a campanha dele foi uma das piores do Brasil, com mais irregularidades, desvios e não se atentou à questão da lei.

Com certeza ele merece e precisa ser cassado, porque isso é inclusive pedagógico.

Ele prestou depoimento e depois vai ter o voto do relator e a discussão no TRE. Não sabemos como isso vai se dar. Acho que ali o processo é todo para ele ser cassado, mas eu não sei o tempo disso. Em sendo cassado, obviamente, o TSE deve chamar novas eleições do Paraná.

Possível disputa contra Michelle Bolsonaro?

O Paraná é o meu Estado, eu gosto muito daquele Estado, já fui senadora pelo Paraná, acho que posso ajudar, sim, num debate político. E quando você vai para um enfrentamento político, você não escolhe adversário, você faz um enfrentamento com quem tem que fazer, porque você faz a partir da sua causa, daquilo que você acredita, daquilo que você defende, e não a partir só do que o adversário se coloca.

E quando você defende a sua causa, o que você acredita, você se contrapõe ao adversário. Dessa forma, se eu for disputar a eleição, se for essa vontade do partido, que é uma discussão que nós temos que fazer no Estado, também uma discussão nacional, eu não tenho problema em disputar com quem quer que seja.

Genocídio em Gaza

Esse é um tema que deixa a gente muito triste. Como é que pode matar a gente daquele jeito? Matar criança daquele jeito? Matar mulheres daquele jeito?

E nós não estamos defendendo a ação que o Hamas fez em Israel, muito pelo contrário, o presidente condenou, eu também falei sobre isso. Agora, a resposta dada àquela ação é uma resposta muito perversa, que atinge muitas pessoas.

Não é possível que a gente está vivendo isso, por isso que o presidente tem razão em dizer que é um genocídio, sim, e que tem que dar um freio, tem que parar. Até quando vai essa mortandade? Os Estados Unidos não vão se manifestar sobre isso? O Netanyahu é um extremista.

Eu não estou criticando os judeus, e nem Israel que tem de viver como Estado assim como os palestinos têm que ser, mas o governo de extrema-direita do Netanyahu que é um horror. Vamos lembrar que ele era amigo do Bolsonaro, era o único que vinha aqui. Então, por aí você já vê o nível da pessoa.

O Bolsonaro será preso?

Espero que sim, é o mínimo que pode acontecer depois de tudo que ele fez.

Espero que Bolsonaro seja preso porque ele é um mal para o país, não podemos voltar a correr o risco de tê-lo novamente atentando contra a democracia.

Futuro do PT

Nossa faixa etária, da maioria das lideranças do partido, já está acima dos 40 anos. A gente tem feito um esforço muito grande de renovação. Nós temos cota de 20% para jovens nas direções do partido. No próximo Congresso, a gente deve aumentar isso. E estamos fazendo um esforço muito grande para a eleição de vereadores e vereadoras jovens.

Jovens, mulheres, negros. O partido tem investido muito nisso. Já nas eleições de 2018 e 2020 a gente investiu nisso. E tivemos resultado. Hoje, a maior bancada feminina da Câmara dos Deputados, proporcionalmente, inclusive, não só numericamente, é a bancada do PT.

Eleições em São Paulo, Minas e Rio sem candidatos do PT

Nem sempre ter uma candidatura a prefeito quer dizer que o seu partido vai ampliar ou melhorar a sua presença política. Dependendo da circunstância, pode piorar, sobretudo pelo desempenho do seu candidato. Então, não adianta também dar murro em ponta de faca. A gente precisa ter sensibilidade para fazer as composições.

São Paulo é muito importante, e o Boulos é uma pessoa do nosso campo político, com compromisso, que com certeza vai cumprir um papel fundamental para nós. Ganhar São Paulo com o Boulos é ter uma vitória considerável no processo eleitoral de 2024.

Em Belo Horizonte nós lançamos o Rogério Correia, que é nosso deputado federal. Lá a gente tem mais dificuldades. O PT sofreu muito lá. Nós estamos recuperando, estamos reconstruindo. E também, dentro do nosso campo, não tem nomes que sejam tão expressivos. O Rogério é uma pessoa que tem projeção. Acho que a gente tem condição de ter uma boa chapa de vereadores também.

No Rio, a gente tem uma discussão com o atual prefeito, que é o Eduardo Paes. O PT participa do governo dele, mas isso não quer dizer que vai ter apoio automático. Têm também as candidatura do PSOL e do PCdoB, que nos procuraram, então nós temos que conversar. Primeiro, nós queremos um programa de governo que atenda aquilo que nós acreditamos, principalmente no campo social, do atendimento às pessoas, a relação com os servidores públicos do Rio de Janeiro. Segundo, nós queremos discutir composição de chapa. O apoio do Lula vai ser muito importante na eleição do Rio.