Ciro Gomes, o eterno candidato à Presidência da República, que já disputou o cargo quatro vezes (1998, 2002, 2018 e 2022) falou pela primeira vez sobre seu futuro político. No ano passado, o principal quadro do PDT amargou seu pior desempenho em todos os tempos, obtendo apenas 3% dos votos, após tomar uma postura incendiária de atacar indistintamente todos os adversários e de colocar Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) no mesmo balaio, tentando vender-se como única solução viável.
Segundo suas próprias palavras, ele “dificilmente voltará a disputar uma eleição”, sob o argumento, de fato realista, de que “a República está apodrecendo”. Embora não tenha se aprofundado nessa afirmação, é claro que o processo político no país atravessa um atoleiro com o surgimento da forma escatológica de fazer política do bolsonarismo, que arrebata tantas mentes e corações no Brasil. Mas as críticas de Ciro foram além.
“Eu sou político, mas eu perdi um pouco a crença na linguagem eleitoral brasileira. O que me causou constrangimento e me fez perder a crença da minha vontade de disputar minhas ideias eleitoralmente são as minhas mediações. Como eu vou explicar pro povão se não tiver um conjunto de pessoas equipadas pelo privilégio de serem artistas, intelectuais, cientistas, líderes estudantis, lideranças sindicais... E por regra, essa gente toda está batendo palma para a destruição do meu país, para o apodrecimento da República. De repente o cinismo perdeu o pudor. ‘Ah, mas o Congresso é assim...’ Que conversa é essa?”, disse o ex-governador do Ceará e ex-ministro.
Em meio às declarações e explicações sobre sua percepção do cenário atual, Ciro acabou deixando escapar um “elogio” tímido e quase imperceptível ao presidente Lula (PT), a quem também elegeu como alvo na eleição de 2022 e até o comparou com Bolsonaro. Desta vez, longe da disputa eleitoral e das reações com o fígado, ele reconheceu que nada poderia ser igual ao retrocesso civilizatório que representou o ex-presidente de extrema direita. A pergunta foi sobre como se sente com o atual governo.
“Eu sinto renovado, um alívio em relação ao que tínhamos [referindo-se a Jair Bolsonaro], mas se nós ficarmos amarrados a essa referência trágica do passado, nós não vamos perceber corretamente o tamanho do problema que o Brasil tem por resolver. Essa é minha grande frustração”, respondeu Ciro.