O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) ameaçou o também parlamentar Henrique Vieira (PSOL-RJ) durante sessão da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados na tarde de terça-feira (28). O delegado apontou para o pastor e vociferou: "Se o senhor quiser resolver isso aqui de outra forma, a gente resolve!".
A ameaça ocorreu durante discussão e votação do projeto de lei nº 3.283/2021, que altera um conjunto de leis e decreto-lei do Código Penal para equiparar a atos terroristas as condutas praticadas em nome ou a favor de organização criminosa organizada.
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Relator da proposta, Bilynskyj considerou uma decisão hipócrita de Vieira de não assinar o PL caso o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) seja considerado um grupo terrorista: "Ele não assina porque o MST não é terrorista", gritou. Vieira não queria equiparar o MST às milícias.
A discussão teve início quando o delegado afirmou que a classificação do movimento como um grupo terrorista é "uma questão de conhecimento técnico-jurídico".
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Segundo Bilynskyj, a definição de organização terrorista se baseia no que a população classifica desse modo: "É aquilo que o povo diz, não é o STF, não é você, não é seu presidente". Ele não colocou no relátorio as organizações paramilitares conhecidas e o Escritório do Crime, uma milícia especializada na execução por encomenda com atuação na Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ).
Em seguida, o relator incomodou-se com as interrupções de fala realizadas pelo deputado Vieira e bradou: "O senhor fique quieto enquanto eu estou exercendo meu direito de resposta, certo? Se o senhor quiser resolver isso aqui de outra forma, a gente reseolve. Mas aqui eu estou usando a palavra".
O congressista do PSOL questionou o significado da última fala e informou que era pacifista diante da resposta de Bilynksyj, que declarou que esta "outra forma" seria "como Vossa Excelência desejar". Em meio aos berros do delegado pedindo silêncio, foi necessária intervenção da Mesa da Comissão.
As milícias
Após fala do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Henrique Vieira pediu respostas sobre Adriano da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime e envolvido no esquema das rachadinhas do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PL).
O esquema de rachadinhas teve participação de Adriano da Nóbrega como empregador de sua mãe e ex-mulher como funcionárias fantasmas. Uma parcela do salário de servidores públicos recolhido era repassada ao ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE).
Eduardo Bolsonaro, conta para nós sobre Adriano da Nóbrega. Eduardo Bolsonaro, conta para nós sobre Escritório do Crime, grupo de matadores no Rio de Janeiro, na Zona Oeste e Baixada de Fluminense. Eduardo Bolsonaro, fala para nós sobre as milícias no Rio de Janeiro e pergunta ao Bilynskyj por que na lista [de organizações criminosas] não tem Escritório do Crime.
O ex-PM ainda teria combinado com o ex-assessor de Flávio e pivô do esquema, Fabrício Queiroz, para que parte dos salários, acumulados em mais de R$ 1 milhão, fossem considerados "pensão alimentícia".
Conforme depoimento de Julia Mello Lotufo, viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, a ordem do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes partiu de um dos líderes da milícia Gardênia Azul, vizinha da favela de Rio das Pedras, onde Fabrício Queiroz ficou abrigado e Adriano tinha negócios.
A milícia de Rio das Pedras pagava as contas pessoais e familiares de Adriano da Nóbrega. As principais contas foram encontradas pelo MP-RJ no escritório de Manoel de Brito Batista, o Cabelo, apontado como o administrador da milícia. Era ele quem controlava pagamentos e cuidava do dia a dia dos negócios explorados pela quadrilha.
As forças policiais encontraram no escritório uma conta de luz referente a um imóvel declarado como residência por Adriano da Nóbrega no seu depoimento como testemunha no inquérito sobre a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 2018.
Em resposta à declaração de Eduardo Bolsonaro que Adriano da Nóbrega seria "matador de bandido", o pastor Henrique Vieira ainda apontou que o ex-membro do BOPE, associado às milícias e ao Escritório do Crime, foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (RJ).