MÍDIA E FASCISMO

Estadão ataca Fórum com nota da ANJ, que tem "dono" do jornal como vice-presidente

Francisco Mesquita Neto, herdeiro do tabloide antipático ao governo, recebeu Bolsonaro na sede do jornal em 2019, um ano após lendário editorial "Uma Escolha Muito Difícil", sobre o segundo turno contra Fernando Haddad.

Francisco Mesquita Neto e Bolsonaro na sede do Estadão em outubro de 2019.Créditos: Clauber Cleber Caetano/PR
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A desfaçatez do tablóide antipático ao governo, o Estadão, na coordenação dos ataques à Fórum, que desmascarou o factóide sobre a "dama do tráfico", criado pelo jornal para atacar o ministro da Justiça Flávio Dino, revela o desespero do conglomerado da mídia liberal ao ver desabar a credibilidade e a pose de imparcialidade na cobertura política.

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Tentando se colocar no papel de vítima e distorcendo a desconstrução do factóide que vem sendo feita pela Fórum e jornalistas independentes, como Leandro Demori, o Estadão usou uma nota da Associação Nacional de Jornais, a ANJ, para criticar o que classifica como "tentativas de intimidação insufladas por líderes partidários, membros e apoiadores do governo e influenciadores".

Na nota, a ANJ tenta equiparar a desconstrução do factóide pela mídia progressistas aos ataques fascistas à imprensa durante o governo Jair Bolsonaro (PL) - que teve a agenda econômica apoiada pela mídia liberal - ao dizer que "o uso de métodos de intimidação contra veículos e jornalistas não se coaduna com valores democráticos".

A associação, então, recorre ao velho discurso de "liberdade de imprensa" - que só vale, para eles, para aqueles que coadunam de suas posições - para atacar "dirigentes políticos, sites e influenciadores governistas" que revelaram a armação do factóide da "dama do tráfico".

“O uso de métodos de intimidação contra veículos e jornalistas não se coaduna com valores democráticos e demonstra um flagrante desrespeito à liberdade de imprensa. Também evidencia uma prática característica de regimes autocráticos de, com o apoio de dirigentes políticos, sites e influenciadores governistas, tentar desviar o foco de reportagens incômodas por meio de ataques contra quem as apura e divulga”, diz a nota, publicada em reportagem permeada por jornalistas e personalidades simpáticas ao jornal.

O que o Estadão esconde, no entanto, é que a ANJ tem como um de seus vice-presidentes Francisco Mesquita Neto, diretor-presidente do tablóide, que enfrenta uma crise financeira - e de credibilidade - há mais de 10 anos.

Mesquita Neto é o herdeiro do que resta do jornal, fundado pela família em 1875 e que, entre outros temas, defendeu a manutenção da escravidão no país e o regime de Adolph Hitler na Alemanha nazista, em 1935.

À frente do Estadão, que ataca Lula desde os tempos do sindicalismo no fim dos anos 1970, Mesquita Neto recebeu Bolsonaro na sede do jornal em 10 de outubro de 2019, quando deu ao ex-presidente um quadro com uma página do folhetim.

O encontro com a direção do Estadão, articulado pelo ex-Secom Fabio Wajngarten, aconteceu cerca de um ano após o jornal publicar o editorial "Uma Escolha Muito Difícil", sobre a disputa no segundo turno das eleições de 2018 contra Fernando Haddad, em um apoio envergonhado ao ex-presidente fascista.

Bolsonaro foi ao encontro de Mesquita Neto, diretores e editores do Estadão - entre eles, Andreza Matais - acompanhado de ministros militares, como Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, e de Paulo Guedes, ministro da Economia, que foi colocado na campanha presidencial pelo sistema financeiro para avalizar um futuro governo do deputado de ultradireita.

Veja fotos do encontro.

Bolsonaro recebido pela direção e editores do Estadão. Ao fundo, de camisa listrada, Andreza Matais. (Clauber Cleber Caetano/PR)
Fabio Wajngarten, Francisco Mesquita Neto e Bolsonaro. (Clauber Cleber Caetano/PR))
Francisco Mesquita Neto e Bolsonaro na redação do Estadão (Clauber Cleber Caetano/PR)