SIGA O DINHEIRO

Milícias e crime organizado sufocados financeiramente são origem de ataques a Dino

Ministro da Justiça e Segurança Pública anunciou há pouco tempo mecanismo para “seguir o dinheiro” dessas quadrilhas. Acusações forçadas, então, começaram a brotar

Créditos: Ministério da Justiça/Divulgação
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No início de outubro o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou um investimento de R$ 900 milhões, a serem usados até 2026, em ações diretas de combate às organizações criminosas que atuam no Brasil. Um mês depois, na primeira semana de novembro, o chefe da pasta revelou durante um encontro com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (MDB), que estava criado o Comitê Integrado de Investigação Financeira e Recuperação de Ativos (Ciifra), uma força-tarefa interconectada à Polícia Civil fluminense para rastrear o caminho percorrido pelo dinheiro das organizações criminosas, sobretudo daquelas que ele classificou como “narcomilícias”.

“É um escárnio, um absurdo, inaceitável que os industriais da morte estejam com mansões em Angra dos Reis, avião, helicóptero. Isso é um tapa na cara dos cidadãos honestos do país... A nossa proposta é levantar os CNPJs nas áreas mais conflagradas, fazer um rastreamento na Secretaria de Fazenda junto com o Coaf para ver disparidades no faturamento. Também é importante identificar CNPJs ligados a criminosos já conhecidos”, frisou Dino.

Não demorou muito para que os ataques contra o ministro, que até então também era o franco favorito para ocupar um assento “perpétuo” no Supremo Tribunal Federal (STF), começassem. Esta semana, a artilharia devastadora dos setores da mídia liberal habituados a assassinar reputações progressistas (e que não se incomodam com bandidos e assassinos que permeiam o “conservadorismo”) saiu com a mais rocambolesca das histórias: uma “dama do tráfico”, esposa do líder da organização criminosa Comando Vermelho no Amazonas, “teria ido a audiências no Ministério da Justiça e Segurança Pública e no dos Direitos Humanos”. Logo, a “chefona” do narcotráfico seria aliada e próxima de Dino e de integrantes do governo Lula.

Na prática, a bobajada é apenas uma presepada conspiracionista e abilolada do bolsonarismo mais tosco, só que com um verniz de seriedade. Quem saiu primeiro com o papo-furado foi o jornal O Estado de S. Paulo, em que pese a incompatibilidade entre o nome da publicação e a palavra “seriedade” no mesmo parágrafo.

A tal mulher, que de fato teria ido ao Ministério dos Direitos Humanos, e posteriormente ao da Justiça e Segurança Pública, tem condenações na Justiça por associação ao tráfico. No entanto, ela participou de um evento chamado Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, organizado pelo Comitê de Prevenção e Combate à Tortura, do Ministério dos Direitos Humanos, que durou dois dias. O tal encontro tratou de assuntos relacionados às condições em que presos são mantidos nos estabelecimentos penitenciários brasileiros. O Ministério dos Direitos Humanos pediu aos Comitês de Prevenção e Combate à Tortura dos 26 estados e do Distrito Federal que indicassem pessoas para participar do fórum de discussão, e ela então foi incluída na lista pelo grupo amazonense. Em Brasília, a suposta “dama do tráfico” tratou apenas com funcionários de escalões mais baixos sobre temas contra a tortura, assim como as outras dezenas de convidados, e já admitiu que “viu Flávio Dino uma vez, quando passou pelo ministério, mas que nunca falou com ele”.

Diante de crime tão grave, como cruzar com uma pessoa que recebeu condenação na Justiça por um corredor e sequer cumprimentá-la, por não saber quem é, os diários O Globo e O Estado de S. Paulo, assim como outros jornais e portais da imprensa tradicional, aumentaram o bombardeio para tentar minar e derrubar o mais atuante e incisivo ministro da atual administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O próprio presidente, aliás, publicou um tuíte em sua conta oficial sinalizando algo nesse sentido, manifestando o quanto Dino vem sendo alvo de todo tipo de sandice conspiracionista por razões bem diversas das de combater a imoralidade ou denunciar crimes de um alto funcionário do governo.

“Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino, que vem sendo alvo de absurdos ataques artificialmente plantados. Ele já disse e reiterou que jamais encontrou com esposa de líder de facção criminosa. Não há uma foto sequer, mas há vários dias insistem na disparatada mentira. O Ministério da Justiça tem coordenado ações de enorme importância para o país: a defesa da democracia; o combate ao armamentismo selvagem; o enfrentamento ao crime organizado, ao tráfico e às milícias; e a proteção da Amazônia. Essas ações despertam muitos adversários, que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas. Daí nascem as fake news difundidas numa clara ação coordenada. Nós reiteramos: não haverá recuos diante de criminosos e seus aliados, estejam onde estiverem, sejam eles quem forem”, escreveu Lula.

A escolha de Dino como alvo a ser abatido a qualquer custo muito tem a ver com sua atuação direta na devassa e combate à lavagem de dinheiro oriundo de atividades criminosas por megaquadrilhas, e pouco ou nada está relacionada a um suposto papel de fiscalizar o poder público e seus representantes, para que eles andem dentro da lei. Dino não cometeu qualquer crime, não está relacionado em nada com a patusca da suposta “dama do tráfico”, e sequer deu um “oi” na vida à tal mulher ou a qualquer integrante do bando supostamente representado por ela.

Mas se engana quem acha que o ministro terá paz depois da missão que aceitou conduzir nesse novo governo, sobretudo quando olhamos para o governo anterior e vemos quem era parte dele e quais eram suas relações com o crime organizado.