ARTICULAÇÃO GOLPISTA

Auxiliar de Anderson Torres relata pressão do governo Bolsonaro para ligar PT a fações criminosas

PF encontrou anotação no celular de Marília Ferreira, que comandava a área de inteligência do Ministério da Justiça, revelando como antigo governo se organizava para impedir a vitória de Lula nas eleições

Marília Ferreira, ex-assessora de Anderson Torres, em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos do DF.Créditos: /Foto:Rinaldo Morelli/CLDF
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A Polícia Federal (PF) tem acumulado mais evidências de que o governo de Jair Bolsonaro não apenas considerou a possibilidade de um golpe de Estado, mas também se envolveu em ações para influenciar o resultado das eleições de 2022, com o intuito de impedir a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Às vésperas do pleito, uma notícia falsa alegando que o PT, partido de Lula, manteria conexões com organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) ganhou ampla circulação. A nova descoberta da PF sugere agora que essa fake news possa ter sido originada dentro do governo Bolsonaro.

Investigadores encontraram uma anotação no celular de Marília Ferreira, ex-assessora do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e chefe da área de inteligência da pasta, indicando que ela foi pressionada a produzir relatórios com informações falsas que associassem o PT a facções criminosas.

Torres esteve preso entre janeiro e abril deste ano sob acusação de suposta cumplicidade nos atos golpistas ocorridos em 8 de janeiro. Naquela ocasião, ele ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, o epicentro do levante antidemocrático.

De acordo com a anotação encontrada pela PF no celular de Marília Ferreira, "havia uma certa pressão para que eu fizesse um relatório que indicasse a relação do PT com facções criminosas."

O relato da ex-assessora de Torres foi obtido a partir da quebra de sigilo telemático solicitada pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas.

A motivação de Torres e do governo Bolsonaro ao pressionar a assessora para produzir um relatório que ligasse o PT a facções criminosas seria justificar as operações de bloqueio realizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia do segundo turno das eleições em locais onde o presidente Lula havia obtido mais votos na primeira volta do pleito. O objetivo era impedir que os eleitores chegassem aos seus locais de votação. Por conta desses eventos, o ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, encontra-se preso.

Apesar da solicitação de Torres, Marília Ferreira não elaborou o relatório exigido, pois, de acordo com sua própria anotação no celular, "não havia comprovação" de qualquer relação entre o PT e organizações criminosas.

Presidente do PT se manifesta 

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, se manifestou através das redes sociais, nesta sexta-feira (6), sobre a pressão do governo Bolsonaro sobre a ex-assessora do Ministério da Justiça para incriminar sua legenda. 

"Muito graves as anotações da ex-diretora de Inteligência de Anderson Torres, Marília Alencar, sobre as pressões que recebeu do chefe para forjar acusações contra o PT. Ela colecionava vídeos e postagens com Fake News sobre compra de votos e supostas ligações do PT com facções criminosas. Mas a própria Marília escreve que não produziu o documento acusatório que Anderson pediu porque não havia base nenhuma para isso. Sempre denunciamos que esse pessoal do Bolsonaro conspirava pra ligar o PT ao que há de ruim. Agora, eles mesmos confessam. Tem que ir fundo nesta investigação para que os verdadeiros criminosos sejam punidos", escreveu a parlamentar e dirigente.