Nesta segunda-feira (16), o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o deputado Ademar Traiano (PSD), informou, durante seu discurso na tribuna, que irá entrar com uma representação disciplinar com o objetivo de cassar o mandato do deputado Renato Freitas (PT).
O motivo, segundo Traiano, são as “injúrias” cometidas por Renato Freitas durante sessão plenária ocorrida na última segunda-feira (9). Na ocasião, Freitas teve seu microfone cortado antes do tempo pelo presidente da Alep, após ter sua fala interrompida por ofensas racistas vindas de um grupo de evangélicos que se manifestava contra o aborto nas galerias da Casa.
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O deputado caracterizou o episódio como uma “tentativa de censura” por parte do deputado Traiano.
“Ao denunciar a hipocrisia religiosa daqueles que falam em paz, mas no seu íntimo praticam a guerra, o deputado Ademar Traiano tomou as dores para si e desligou meu microfone”, disse Renato Freitas.
Mais uma vez o presidente da Assembleia, Ademar Traiano, tenta me censurar.
— Renato Freitas (@Renatoafjr) October 10, 2023
Ao denunciar a hipocrisia religiosa daqueles que falam em paz, mas no seu íntimo praticam a guerra, o deputado Ademar Traiano tomou as dores para si e desligou meu microfone. pic.twitter.com/J1IWLHqXNk
“Vossa Excelência vive se vitimizando mais uma vez”, disse Traiano ao ouvir as reclamações de Freitas no dia do ocorrido. Ao explicar o pedido de cassação, o deputado do PSD afirmou que as reivindicações de Renato Freitas violaram o decoro parlamentar.
Ele diz que a cassação prevê a preservação da ordem e da dignidade da instituição, de acordo com o regimento interno da ALEP.
O processo será encaminhado ao Conselho de Ética, que, após deliberação, poderá recomendar, ou não, a cassação de Renato Freitas.
Perseguição
Essa não é a primeira vez que o deputado Renato Freitas é alvo de uma tentativa de cassar seu mandato.
O deputado foi eleito com 57 mil votos para a ALEP e é o único parlamentar negro de esquerda na casa legislativa. Pouco mais de um mês após assumir seu mandato, em março deste ano, Freitas sofreu com um pedido de cassação feito pelo pelo secretário de Segurança Pública do estado, coronel Hudson Teixeira.
O pedido veio após uma fala do deputado que questionou a violência da Polícia Militar do Paraná a partir de dados da Segurança Pública do estado.
“É uma tentativa de censura, é uma tentativa de me dissuadir dos meus propósitos. É difícil me cassar porque minha fala está dentro do meu poder, dentro da minha liberdade parlamentar”, disse o petista à época em declaração ao Fórum Café.
Em julho deste ano, outro pedido de cassação foi feito pela Corregedoria da Assembleia Legislativa, que acusou o parlamentar de “falta de compostura nas sessões”.
Mas a perseguição com Renato Freitas é vista desde que ele era vereador pelo município de Curitiba, cargo que exerceu antes de se tornar deputado. O petista foi cassado por duas vezes, em junho e agosto de 2022, por quebra de decoro, num processo marcado por racismo.
A razão foi o simples fato de Freitas ter entrado numa igreja durante um ato político do qual participava, protestando contra as mortes do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho. A cassação foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2022.
Renato Freitas ainda ganhou notoriedade em maio de deste ano, após denunciar um caso de racismo sofrido por ele em um voo. Na ocasião, que gerou revolta na internet, o parlamentar foi retirado de um voo para uma "inspeção aleatória" feita por policiais federais.