Parlamentares bolsonaristas preparam uma ofensiva à política externa do governo Lula que tem como pano de fundo o conflito entre Israel e Palestina na Faixa de Gaza.
Esta semana devem ser apreciados requerimentos de convocação para o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; e para o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, comparecerem à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.
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Vieira deve ser convocado à Câmara a explicar as medidas adotadas após o ataque do grupo Hamas e qual é a posição oficial do Brasil em relação ao grupo fundamentalista e às violações que estão sendo praticadas contra o povo israelense.
Já Amorim pode ter que dar explicações sobre uma declaração em que ele afirma que o ataque do Hamas teve como origem "anos de tratamento discriminatório" de Israel contra os palestinos.
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Em resposta, a base governista tenta transformar os requerimentos de convocação em convite.
Os bolsonaristas também buscam explorar o que consideram complacência do governo atual por não classificar o Hamas como um grupo terrorista. O Brasil segue a classificação da ONU, que não inclui o Hamas nessa categoria.
Tal pai, tal filho
Um dos autores de parte dos requerimentos de convocação dos ministros de Lula é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Eduardo assina dois requerimentos para convocar o chanceler Vieira. Além disso, ele é coautor de um projeto de decreto legislativo que visa encerrar um acordo de cooperação entre Brasil e a Organização para a Libertação da Palestina, em nome da Autoridade Nacional Palestina.
Desconhecimento constrangedor
Uma amostra de como o conflito em Gaza está sendo usado politicamente pelo bolsonarismo é a postagem feita pelo senador Sergio Moro (União-PR), em aberto ataque à Lula, neste domingo (15).
O ex-juiz, cujo mandato parlamentar está na berlinda com a aproximação do julgamento pela sua cassação pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Paraná, mostrou todo o seu desconhecimento sobre o tema.
O Brasil tem relevância tanto pelo histórico da diplomacia brasileira - a despeito do terraplanismo colocado em prática ao longo de quatro anos de Governo Bolsonaro - quanto pelo posto que ocupa na presidência temporária do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
O colegiado, neste mês de outubro, é presidido pelo Brasil. A presidência é rotativa. O colegiado tem cinco membros permanentes e 10 não-permanentes, entre eles o Brasil.
É o Conselho de Segurança - apesar das dificuldades e da urgência em uma reforma na governança da ONU - que tem a prerrogativa de impor sanções mandatórias. O colegiado é a única instância internacional capaz de autorizar o uso legítimo da força em caso de ameaças à paz, ruptura da paz e atos de agressão, conforme o Capítulo VII da Carta da ONU.
Fake news dominam perfis bolsonaristas
Fake news circularam recentemente nas redes sociais, tentando associar os acordos e doações feitas pelo Brasil à Organização para a Libertação da Palestina com falsos repasses para o Hamas.
Entre as fake news mais chocantes e irresponsáveis que foi explorada por bolsonaristas como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) nas redes sociais foi a de uma suposta decapitação de 40 bebês pelos militantes radicais palestinos do Hammas, que teria ocorrido na invasão à vila de Kfar Aza. Tal fato já foi negado por autoridades de Israel, mas segue alimentando os perfis dos extremistas de direita no Brasil .
Congresso escolheu lado
Na noite do domingo passado (8 ), a bandeira de Israel foi projetada sobre a cúpula do Senado, no edifício do Congresso Nacional, localizado em Brasília. Esta homenagem ocorreu um dia após os ataques realizados pelo grupo extremista Hamas contra o país.
O senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) compartilhou em sua conta no Instagram que a iluminação especial foi solicitada por ele ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Alcolumbre, que segue a fé judaica, declarou que essa projeção representa um "gesto de solidariedade em resposta ao ataque terrorista" e é uma homenagem a todas as vítimas fatais, feridos e desaparecidos.
Na noite deste domingo (8), a cúpula do Senado Federal está iluminada com a projeção da bandeira de Israel em sinal de solidariedade pelo ataque terrorista sofrido e também em homenagem a todos os mortos, feridos e desaparecidos em decorrência desse ataque cruel. pic.twitter.com/1BDskk8sqR — Davi Alcolumbre (@davialcolumbre) October 9, 2023
Mortes só aumentam
No dia 7 de outubro, o grupo fundamentalista islâmico Hamas atacou Israel por terra, mar e ar, resultando na morte de 1.300 pessoas. Em retaliação, as aeronaves das Forças de Defesa de Israel (IDF, da sigla em inglês) em apenas uma semana despejaram seis mil bombas sobre o povo palestino que vive na Faixa de Gaza. Esse número equivale a uma explosão a cada dois minutos e foi anunciado pela própria IDF. Até o momento, 2.215 palestinos morreram nos ataques israelenses.