O ministro da Defesa José Múcio afirmou que o estopim que motivou a demissão do general Júlio César de Arruda do comando Exército no último sábado (21) foi a pressão do presidente Lula para a exoneração do tenente-coronel Mauro Cid do comando do 1º Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia.
Cid, que é considerado uma espécie de "Queiroz do Planalto", atuou como assessor especial de Jair Bolsonaro (PL) e foi designado para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, o 1º BAC, uma das unidades do prestigiado e temido Comando de Operações Especiais, com sede em Goiânia.
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Em entrevista à GloboNews, Múcio afirmou que Lula tomou conhecimento da situação na noite de sexta-feira (20) e automaticamente cobrou uma posição das Forças Armadas. Às 6h40 do dia seguinte, o presidente ligou novamente para Múcio e deu um ultimato.
"Ele perguntou: como vocês vão tratar esse assunto? Há um espírito de corpo muito forte no Exército", disse Múcio que emendou que Lula retornou às "6h40 da manhã de sábado: eu quero que você resolva e quero que me dê notícia de como vai resolver isso. Foi ai que se deu a troca de comando", contou.
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Múcio afirmou que a troca de Arruda pelo general Tomás Paiva se deu por quebra de confiança na relação com o militar, que ficou menos de um mês no comando do Exército.
"Não tinha mais confiança, não tinha mais assunto que virasse a página [dos atos terroristas de 8 de janeiro]. Tiveram essas coisas, a questão do acampamento, como ele se comportou. Foi uma série de coisinhas. Eu gosto do general Arruda, lamentei bastante, mas tem decisões que a gente tem que tomar. Foi a decisão acertada", justificou.
Ambiente hostil
Múcio ainda rebateu as críticas que vem recebendo sobre sua atuação frente ao Ministério da Defesa, especialmente sobre a tolerância com militares golpistas.
"Eu vim para negociar. Quando o presidente me chamou, ele falou que era um lugar dificil. Todo mundo falava que não ia subir a rampa, que não ia ter posse. E eu comecei a trabalhar no Ministério da Defesa 40 dias antes de tomar posse como ministro. Estive com todos os ex-comandantes, com dificuldades no início. Muita dificuldade. Um ambiente muito hostil. Os comandantes haviam avisado que todos sairiam no dia 22 de dezembro. E você pode fazer uma pergunta: iam fazer o quê com as armas de 22 a 31 [de dezembro]? Não era nenhum cenário bonito", afirmou.
Indagado se havia se arrependido de ter classificado os golpistas como "pessoas que faziam manifestação democrática", Múcio disse que não.
"Eu tinha que criar um link qualquer para haver um tripé de confiança. Eu não me arrependo, não", disse.
O ministro da Defesa ainda apontou qual teria sido o erro, na visão dele, que permitiu o desencadeamento da ação terrorista de apoiadores extremistas de Bolsonaro que resultou na destruição do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do edifício-sede do Judiciário.
"Se você perguntar: qual foi o erro? Foi a permissão que os ônibus que chegaram a Brasília entrassem no acampamento. Se estivessem ficado do lado de fora, numa praça qualquer, o problema era da polícia do GDF. Como entrou no território do Exército parece que aqueles 200 se multiplicaram em não sei quantos, geraram 5 mil e aconteceu aquela vergonha".