RECONSTRUÇÃO

Primo de Ustra, Alvorada, Comissão da Anistia: Lula faz limpa de militares no governo

Em um só dia, dezenas de militares foram exonerados de diferentes órgãos do governo; no Ministério dos Direitos Humanos, perseguidos políticos da ditadura militar voltam a ter voz

Militares do Exército no Palácio do Planalto.Créditos: Divulgação/Exército Brasileiro
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem promovendo uma verdadeira "limpa" de militares no governo. O número de membros das Forças Armadas em órgãos da administração federal explodiu durante o mandato de Jair Bolsonaro, que militarizou setores que deveriam ser chefiados e conduzidos por civis e desmontou tantos outras estruturas. 

A empreitada do novo mandatário em expulsar uma parte de militares do governo se tornou ainda mais necessária diante do fato de que uma parcela desses oficiais foi conivente com os atos golpistas promovidos por bolsonaristas radicais nos últimos meses de 2022 e no fatídico ataque terrorista contra as sedes dos Três Poderes em Brasília. 

Somente nesta terça-feira (17), em meio às críticas que Lula vem fazendo àqueles membros das Forças Armadas que de alguma maneira se aliaram aos golpistas, foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU) dezenas de exonerações de militares em diferentes órgãos ligados ao governo

Um dos militares exonerados é o tenente-coronel do Exército Marcelo Ustra da Silva Soares, primo do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador da Ditadura Militar (1964-1985) e ídolo de Bolsonaro. Marcelo Ustra ocupava um cargo no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), antes chefiado pelo general Augusto Heleno, e foi demitido logo após reportagem do Brasil de Fato apontar que o primo do torturador havia viajado com a comitiva do ex-presidente a Orlando, nos EUA

O GSI era considerado, até então, como um dos principais redutos de militares bolsonaristas dentro do Palácio do Planalto. O ministro da Justiça, Flávio Dino, inclusive, confirmou em entrevista exclusiva ao Fórum Onze e Meia nesta terça-feira (17) que houve participação de membros do órgão em atos que visavam destruir a democracia brasileira. 

“O presidente Lula tem dito com muita ênfase, ele que está providenciando revisões nesses aparatos, que sim, inclusive institucionalmente, antes do dia 1º de janeiro, estavam envolvidos em tentativas de destruição da democracia. Agentes públicos participaram dos acampamentos golpistas. Participaram ativamente e por omissão. Eu não posso antecipar conteúdos das investigações da Polícia Federal (PF). Porém, o fato é que os terroristas que atacaram os três poderes no dia 8 de janeiro tiveram combate pela polícia do Senado e no primeiro momento. não tiveram combate dentro do Palácio do Planalto. Nada é mais contrastante e eloquente do que isso. Esta é uma linha de investigação”, declarou Dino.

Também nesta terça-feira, Lula exonerou 18 militares que exerciam cargos comissionados na "Coordenação de Administração do Palácio da Alvorada" e de outras residências oficiais do governo, como a Granja do Torto.

Limpa de militares na Comissão da Anistia

Em outra ponta, a limpa de militares também está sendo feita no Ministério dos Direitos Humanos, comandado por Silvio Almeida. Nesta terça-feira, o ministro publicou no Diário Oficial da União (DOU) a nova composição da Comissão da Anistia, reconduzindo ao colegiado antigos membros que tinham sido expulsos pelo governo Bolsonaro - entre eles perseguidos políticos pela ditadura militar

Ao mesmo tempo, Almeida excluiu da comissão os militares que tinham sido nomeados por Bolsonaro e pela ex-ministra Damares Alves, que desmontaram o órgão e trouxeram pessoas totalmente avessas ao resgate da memória e reparação às vítimas dos anos de chumbo. 

 

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