Com a prisão de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, ocorrida neste sábado (14) logo de sua chegada ao Brasil, integrantes do Governo do DF aliados de Ibaneis Rocha, o governador afastado por Alexandre de Moraes, têm dito que as falhas de segurança que permitiram os ataques às sedes dos Três Poderes teriam uma relação direta com a atuação de Torres. Em outras palavras, as chances de Ibaneis salvar sua pele parecem estar totalmente relacionadas ao grau de responsabilidade que o ex-secretário deve assumir sobre o episódio.
A prisão de Torres foi emblemática. Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, ele é a primeira pessoa a ocupar o cargo desde a redemocratização que acaba atrás das grades. Além disso, também entra para a história como o primeiro integrante do governo Bolsonaro a ir preso por conta de atos antidemocráticos. Mas os bolsonaristas do Distrito Federal esperam que ele seja o único e, na defesa de Ibaneis, teriam dito à Folha que o próprio Torres armou uma 'arapuca' ao governador.
Uma das razões pelas quais os aliados de Ibaneis acreditam em uma reviravolta a favor do governador nas investigações sobre os ataques terroristas é o fato de que Torres teria exonerado uma parte da cúpula da Secretaria de Segurança que cuidou da posse de Lula (PT) em primeiro de janeiro, considerada uma operação de sucesso, e em seguida tirado férias nos EUA. De acordo com os aliados de Ibaneis, Torres teria armado a desestruturação da segurança do DF e, ao deixar o país, também deixou o governador sem uma referência para lidar com a situação de conflagração que se viu no final de semana passado.
Nesse contexto, o jornal O Globo obteve áudios e mensagens de texto de Ibaneis trocados com Torres e Fernando de Souza Oliveira, o secretário de Segurança Pública interino, durante os ataques a Brasília. No conteúdo de algumas mensagens, ele coloca a culpa em Torres em discurso semelhante ao adotado pelos aliados que falaram à Folha. Em outros, faz declarações enérgicas pelo fim dos ataques.
“Tira esses vagabundos do Congresso e prenda o máximo possível”, diz mensagem do governador afastado a Oliveira. A mensagem de texto é apontada pela defesa de Ibaneis como exemplo de sua reação ao tomar conhecimento dos acontecimentos em Brasília.
Mais cedo, Oliveira teria insistido com Ibaneis no discurso de que as manifestações seriam pacíficas e ordeiras, além de garantir que não haveria maiores problemas. Por volta das 13h20, ele comunica a Ibaneis que negociou a saída dos bolsonaristas da Esplanada do Ministério. Minutos depois os ataques começavam. Ibaneis só teria tomado conhecimento dos ataques às 15h39, quando ordenou a prisão e remoção dos apoiadores de Jair Bolsonaro.
Em depoimento à Polícia Federal, Ibaneis afirmou que além de pedir o apoio das Forças Armadas ao Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, na manhã daquele domingo também procurou Torres, que o repassou para Oliveira. De acordo com o Ibaneis, a ausência de Torres foi o que causou sua exoneração.
A prisão de Anderson Torres
O ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro, Anderson Torres, chegou ao Brasil às 7h28 deste sábado (14) e foi preso pela Polícia Federal (PF) ao desembarcar no Aeroporto de Brasília. De forma discreta, agentes da PF abordaram o ex-ministro no aeroporto e o levaram à sede da Polícia Civil do Distrito Federal - que era comandada por ele - para passar por exame de corpo de delito, antes de ser levado à cadeia. Em seguida, Torres foi encaminhado ao 4º Batalhão da PM, em Brasília.
Em uma ironia do destino, Torres viajou em um voo da empresa Gol identificado pelo prefixo GLO7749. GLO é a sigla para Garantia da Lei e da Ordem, uma medida invocada durante a Ditadura Militar e pedida pelos golpistas que provocaram atos terroristas em Brasília para tentar derrubar o governo Lula e alçar Bolsonaro de volta ao poder.
Anderson Torres é acusado de conivência com o ataque terrorista promovido por apoiadores de Jair Bolsonaro contra as sedes dos Três Poderes em Brasília, já que, naquele dia, estava no cargo de secretário de Segurança Pública do DF e, portanto, era sua a responsabilidade de coordenar a ação policial para impedir o levante golpista.
Na manhã da última sexta-feira (13), o ministro da Justiça, Flávio Dino, deu um ultimato: caso Torres não se apresentasse até segunda-feira (16), o governo daria início a um processo de extradição. O anúncio de Dino foi feito um dia após a PF divulgar que encontrou, em operação de busca e apreensão na casa do ex-ministro, uma minuta de decreto, de quando ele era titular da Justiça do governo Bolsonaro, para encampar um golpe e anular o resultado da eleição vencida pelo presidente Lula.
Ao comprar a passagem aérea, o ex-secretário omitiu o sobrenome "Torres" para que ninguém soubesse que ele está retornando ao país e, assim, não criar alarde durante o desembarque.
*Com informações da Folha e de O Globo.