Em carta aberta divulgada nesta terça-feira (20), dezenas de líderes da esquerda latino americana - entre eles o prêmio nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel e o ex-presidente do Equador, Rafael Correa - fazem um apelo para que Ciro Gomes (PDT) renuncie à sua candidatura à Presidência do Brasil para apoiar Lula (PT).
"Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff", diz o texto.
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Na carta, divulgada no site do cientista político argentino Atilio Boron, os signatários dizem a Ciro que ele "não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas".
"É por isso que a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luis Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia".
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A carta ainda pontua que como "um homem político, inteligente e com larga experiência", Ciro "sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno".
"Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder", diz a carta que abre a novas adesões pelo e-mail cirorenuncia@gmail.com.
Leia a carta na íntegra
Caro colega Ciro Gomes:
Os abaixo assinados são militantes da esquerda latino-americana, profundamente antiimperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo; à cultura primorosa daquele país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.
Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso que a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.
Parece-nos que por causa de sua carreira você não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis. Bolsonaro é um personagem imoral, um fanático alucinado sem princípios morais que deixou mais de 700.000 brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em traí-lo assim que for conveniente para ele.
Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por causa de sua história e de suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que ele continuará sendo uma figura de destaque na política brasileira. Que não é a vez dele, que as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos.
Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros lutadores de toda a América Latina e Caribe.
Primeiras adesões
Adolfo Pérez Esquivel, Premio Nobel de la Paz, Argentina
Rafael Correa, ex presidente del Ecuador
Stella Calloni, periodista, ArgentinaR
Raúl Zaffaroni, ex Juez de la Corte Suprema, Argentina
Atilio Boron, politólogo, Argentina
Piedad Córdoba, Senadora, Colombia
Amado Boudou, ex vicepresidente de la Argentina
Gabriela Rivadeneira, ex presidenta Asamblea Nacional, Ecuador
Fernando Buen Abad, filósofo, México
Ignacio Ramonet, periodista, Francia/España
Ernesto Villegas, República Bolivariana de Venezuela
Hugo Moldiz, Bolivia
Xavier Lasso, periodista, Ecuador
Katu Arkonada, País Vasco/Bolivia
Jorge Lara Castro, ex canciller, Paraguay
Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colombia
Esteban Silva, docente universitario, Chile
María Seoane, periodista, Argentina
Mempo Giardinelli, escritor, Argentina
Juan Eduardo Romero, diputado PSUV, Asamblea Nacional, Venezuela
Alicia Entel, docente universitaria, Argentina
Gilberto López y Rivas, antropólogo, México
Daniel Jadue, Alcalde de Recoleta, Chila
Mario Giorgi, Radio UNDAV, Argentina
Claudia V. Rocca, Rama Argentina de la Asociación Americana de Juristas
María Fernanda Barretto, escritora colombo-venezolana
Daniel de Santis, docente universitario, Argentina
José Seoane, docente universitario, Argentina
Paola Gallo Peláez, Co-presidenta del MOPASSOL, Argentina
Jorge Cantor, Argentina
Rodolfo Hamawi, docente universitario, Argentina
Emilio Taddei, docente universitario, Argentina
Julio Ferrer, periodista, Argentina
Juan Ramón Quintana Taborga, ex ministro, Bolivia
Andrea V. Vlahusic, Co-presidenta del MOPASSOL, Argentina
Héctor Bernardo, periodista, Argentina
María Fernanda de la Quintana, periodista, Argentina
Jorge Elbaum, docente universitario, Argentina
Carlos López López, Parlamentario del Mercosur
Ana María Ramb, escritora, Argentina
Pamela Dávila, periodista, Ecuador
Telma Luzzani, periodista, Argentina
Florencia Saintout, presidenta, Instituto Cultural de la provincia de Buenos Aires, Argentina
Ramón Grossfogel, docente universitario, Puerto Rico
Rafael Urrejola Ditborn, periodista, Chile
Paula Klachko, docente universitaria, Coord. REDH/Cap. Argentino
Henry Morales, Coord. Movimiento Tzuk Kim Pop, Guatemala
Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina
Carlos Bedoya, Coord. Latindadd, Perú
Alexia Massholder, docente universitaria, Argentina
Claudio Katz, economista, Argentina
Marcelo Rodríguez, docente universitario, Argentina
Mario Alderete, Argentina
Graciela Josevich, AUNA Argentina