MUNDO PARALELO

Presidente do Ipea assina estudo fake e diz que fome não cresceu com Bolsonaro

Compilado de 20 páginas não foi discutido nem endossado por pesquisadores do órgão e se baseia em suposições. Associação de servidores diz que material é propaganda eleitoral e acusa aparelhamento

Créditos: Prefeitura Municipal de Bonito (MS)
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Um estudo assinado e divulgado pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Erik Alencar de Figueiredo, afirma, por meio de premissas e suposições absolutamente equivocadas, que a fome no Brasil não aumentou durante o governo de Jair Bolsonaro. A análise, amplamente apontada por especialistas como falsa, diz que se o índice tivesse subido no país, um “choque expressivo” no número de doenças causadas por desnutrição teria sido averiguado no sistema de saúde.

Apresentado no último dia 17, durante uma entrevista coletiva do Ministro da Cidadania, Ronaldo Bento, o suposto estudo traz um emaranhado de ilações frágeis e engata uma clara e inequívoca propaganda eleitoral, mencionando a “ampliação de programas sociais” e um tal “aumento no poder de compra em termos de cestas básicas”, para concluir que os brasileiros mais pobres estariam comendo melhor, o que é frontalmente contrário a todos os estudos realizados até agora sobre o tema no Brasil por instituições sérias e reconhecidas.

Para piorar tudo, o estudo sem parâmetros não foi discutido, revisto e endossado por outros pesquisadores do Ipea, como é o padrão nesse tipo de análise, o que fez com que a Afipea (Associação dos Funcionários do Ipea) acusar o uso eleitoral da instituição de Estado e o aparelhamento do instituto.

“Na tentativa de produzir efeitos e repercussão, o governo Federal utiliza-se da máquina estatal para a produção do que 'aparenta ser', na realidade, uma cara propaganda eleitoral. Custa o preço da democracia, do jogo limpo e do respeito às instituições”, disse a Afipea num comunicado divulgado à imprensa.

Especialistas apontam suposições errôneas e fragilidade do “estudo”

Para muitos profissionais e acadêmicos da área de saúde e nutrição, as conclusões do estudo apresentado pelo presidente do Ipea são equivocadas e falsas. O fato da fome e da insegurança alimentar terem aumentado não significa que, neste período de três anos, os casos de internações por desnutrição iriam saltar. Há uma diferença enorme de se alimentar mal, de forma insuficiente, e uma situação de fome crônica e absoluta.

Os pesquisadores também dizem que as consequências dessa má-alimentação em adultos são diferentes, em termos de impacto e de desnutrição, assim como em seus sintomas, daqueles averiguados em crianças menores de 5 anos.

“Como se ter fome significasse ter doença. Na insegurança alimentar, a forma mais grave é a fome, e o impacto na saúde leva um tempo para acontecer”, disse Patricia Jaime, pesquisadora e professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), em entrevista ao diário conservador paulistano Folha de S.Paulo.

Os números do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e levado a cabo pelo reconhecido Instituto Vox Populi, mostram que 33 milhões de brasileiros passam fome no país atualmente. Há ainda mais de 125 milhões em situação de insegurança alimentar, o que representam absurdos 58% do total da população nacional.