Em audiência das comissões de Educação e Fiscalização Financeira e Controle na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (5), o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, minimizou os indícios de corrupção no Ministério da Educação (MEC) envolvendo o ex-ministro Milton Ribeiro, que chegou a ser preso, e pastores lobistas.
Em dado momento do debate, quando questionado por deputados se há corrupção no governo Bolsonaro, Rosário chegou a sugerir que "só propina" não é corrupção.
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"Sobre existência de casos de corrupção, se existe casos de corrupção no governo federal, existe caso de corrupção de pessoas. Se essa pessoa faz parte do governo, a gente investiga. E só existe caso de corrupção... e eu posso falar aqui de corrupção no sentido latu sensu, o que é corrupção se é só receber propina, utilizar outros atos? Então, assim, dentro de uma complexidade do tamanho que pode ser o conceito de corrupção, a gente só garante que tem corrupção depois que a gente tem a pessoa condenada. Temos que fazer as investigações, não dá para provar", disparou o ministro da CGU
A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) foi quem chamou a atenção para o suposto "ato falho" de Rosário. "Me preocupo com frases soltas que vão tornando essa história cada vez mais mal contada. O próprio presidente Bolsonaro, em uma live, disse que não se tratava de corrupção, se tratava de 'tráfico de influência'. O ministro da CGU, talvez num lapso, também disse hoje, que só receber propina não seria corrupção. E me preocupa essa banalização do que é corrupção, porque receber propina é corrupção, tráfico de influência é corrupção, e a gente está falando de uma investigação que tem coisas bastante concretas", pontuou a parlamentar.
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Wagner Rosário chegou a dizer ainda que tem "orgulho" do fato de que "somente um" ex-integrante do governo é investigado por corrupção. "O que eu tenho aqui até agora é que não temos ninguém da alta cúpula, temos aqui o caso de investigação em cima do ministro, não temos mais nenhum caso de ninguém envolvido recebendo propina, isso é uma coisa que orgulha bastante", declarou, em referência a Milton Ribeiro.
Escândalo no MEC e prisão de Milton Ribeiro
Preso em 22 de junho, pouco menos de três meses após deixar o cargo, o pastor e ex-ministro da Educação Milton Ribeiro é suspeito de montar um balcão de negócios juntamente com os também pastores Arilton Moura e Gilmar Santos na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) por meio de propinas, pagas até mesmo em barras de ouro. Ribeiro foi solto no dia 23 do mesmo mês.
O escândalo foi revelado em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo que mostrou que os dois pastores montaram uma espécie de gabinete paralelo para negociar a liberação de verbas da educação mediante pagamento de propina.
Em áudio vazado, o ex-ministro diz ter recebido ordens de Bolsonaro para dar "tratamento privilegiado" aos pastores. Em depoimento à Polícia Federal, Ribeiro confirmou que o presidente pediu para que ele recebesse um dos pastores, embora tenha negado que o pedido fosse de "tratamento privilegiado".
"O presidente Jair Bolsonaro realmente pediu para que o pastor Gilmar fosse recebido, porém isso não quer dizer que o mesmo gozasse de tratamento diferenciado ou privilegiado na gestão do FNDE ou MEC, esclarecendo que como ministro recebeu inúmeras autoridades, pois ocupava cargo político", disse o ex-ministro em seu depoimento.
A revelação de que os pastores pediram propina em barras de ouro para liberar dinheiro do FNDE partiu de Gilberto Braga (PSDB), prefeito de Luis Domingues (MA).
Segundo ele, o pastor Arilton Moura pediu propina de 1 quilo de ouro para liberar recursos MEC destinados à construção escolas e creches em sua cidade.
"Ele (Arilton Moura) disse: ‘Traz um quilo de ouro para mim’. Eu fiquei calado. Não disse nem que sim nem que não (...) Ele disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar (a demanda no MEC). E na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”, relatou o prefeito ao jornal.