Um encontro da cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), próxima de Jair Bolsonaro (PL), vai analisar uma proposta de resolução que estabelece ser incompatível a fé cristã com o marxismo e o comunismo. Está prevista, inclusive, a possibilidade de punições a fiéis que tenham posições políticas à esquerda.
Com isso, definitivamente, a IPB dará cada vez mais espaço para a campanha de Bolsonaro, fechando as portas para apoiadores do ex-presidente Lula (PT) e demais candidatos de esquerda.
A proposta será tratada no Supremo Concílio da igreja, órgão máximo de deliberação, entre 24 e 31 de julho, em Cuiabá (MT). Não é mais segredo nos círculos presbiterianos que o comando da IPB está diretamente alinhado com o atual presidente e apoiará Bolsonaro, em outubro, de acordo com reportagem de Daniel Weterman, em O Estado de S. Paulo.
O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que também é pastor, preso durante investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação (MEC), é um dos líderes da igreja. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, indicado por Bolsonaro, também é integrante da IPB.
Os líderes da instituição querem criar uma comissão formada por altos dirigentes “que apresente a contradição entre Marxismo e suas variantes com o Cristianismo Bíblico” e “que essas pastorais orientem os declarados ‘cristãos de esquerda ou progressistas’ de suas inconsistências”.
O documento precisa ser aprovado em Cuiabá para se tornar um posicionamento oficial. Nos bastidores, ainda de acordo com a reportagem, a proposta é apontada como uma pressão contra fiéis críticos de Bolsonaro e eleitores de Lula.
O relator da proposta é o reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina (PR). No início do mês, ele usou o púlpito para pedir votos a Bolsonaro, ignorando regras da própria instituição.
“Nós temos que reeleger Bolsonaro. Irmãos, não tem outro caminho para o Brasil. Olha a América do Sul inteira. Nós temos que orar e ter deputados como Felipe. E falando nisso, reeleger você também”, afirmou Ferreira, fazendo referência ao presidente e ao parlamentar Felipe Barros (PL-PR), aliado de Bolsonaro e membro da igreja, que estava presente.
Relator da comissão é autor de estudos sobre “as raízes satânicas do comunismo”
A comissão de combate à esquerda deve ter como relator o reverendo Alfredo Ferreira de Souza, da Primeira Igreja Presbiteriana de Roraima, autor de estudos delirantes sobre “as raízes satânicas do comunismo”.
O grupo também deve ter a participação de líderes ligados a Bolsonaro, como o presidente do Supremo Concílio, Roberto Brasileiro Silva. Ele esteve ao lado de Bolsonaro para festejar a aprovação do nome de André Mendonça ao STF.
Hernandes Dias Lopes e Augustus Nicodemus Lopes, conhecidos por terem milhões de seguidores nas redes sociais, também foram indicados para compor a comissão.