VIOLÊNCIA POLÍTICA

Amigos de Marcelo Arruda se indignam com inquérito: "Como assim não houve motivação política?"

Durante coletiva realizada na manhã desta sexta, a delegada Camilla Cecconello descartou a intolerância política como motivo para o bolsonarista Jorge Guaranho assassinar o dirigente petista

Amigos de Marcelo Arruda se indignam com inquérito: "Como assim não houve motivação política?".
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Durante coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (15), a delegada Camilla Cecconello, ao apresentar as conclusões do inquérito sobre o assassinato de Marcelo Arruda, guarda municipal e dirigente petista, pelo agente penal e militante bolsonarista Jorge Arruda, descartou a motivação política como determinante no crime. 

A conclusão da delegada causou consternação na família de Marcelo Arruda que, por meio de sua defesa, declarou que a motivação do crime foi política, e também indignou os amigos de Marcelo Arruda que estava na festa e presenciaram todo o ocorrido. 

Em conversa com a Fórum, André Alliana e Luiz Henrique Dias, amigos de Marcelo Arruda e que estavam na festa onde ocorreu o trágico crime, questionam e estranham a exclusão da motivação política do inquérito da polícia. 

 “Eu não concordo. Para mim, infelizmente está muito claro: ele vai lá para acabar com uma festa porque ele não gosta do motivo da decoração. ele discute, ofende as pessoas com palavras relacionadas a ofensas políticas e gritando palavras políticas do lado dele [pró-Bolsonaro]. Então, para mim é muito óbvio isso [a motivação política do crime]”, diz André Alliana.  
 

Segundo André, foi justamente a discussão política que levou Jorge Guaranho a voltar ao local da festa e cometer o crime. “E isso [a motivação política] acabou escalonando para ele ser expulso da festa pelo Marcelo porque ele não era convidado. Depois ele volta para fazer o que fez. O que provocou, o que iniciou o processo? Iniciou o fato de ele ir lá querer acabar com a festa por causa da decoração [alusiva ao ex-presidente Lula e ao PT] e iniciou porque ele chegou lá ofendendo, por causa da política, as pessoas da festa", diz André Alliana. 
 

Por sua vez, Luiz Henrique Dias afirma que acha “muito estranho [a exclusão da motivação política para o crime do inquérito final], porque a própria delegada na apresentação das conclusões deixou claro que a motivação foi por ordem política”. 
 

“O assassino viu imagens da câmera de segurança do local, viu que era uma festa temática, foi ao local ouvindo música que remetia ao presidente da República, chegou gritando palavras de ordem e matou o Marcelo. Ou seja, como não é um crime de intolerância política? Essa é a questão”, questiona Luiz Henrique Dias. 


Além de questionar as conclusões do inquérito final, Luiz Henrique Dias afirma que excluir a motivação política do crime é uma falta de respeito com a memória de Marcelo Arruda. “Eu espero que o Ministério Público faça a devida correção disso aí, até em respeito à vítima, aos familiares e aos amigos, e também à democracia do Brasil que precisa dessa resposta. A verdade é importante”, finaliza o amigo de Marcelo Arruda. 

 

Defesa de Marcelo Arruda questiona inquérito final: “crime teve motivação política”

 

Em conversa com a Revista Fórum, o advogado Ian Vargas, que representa a família de Marcelo Arruda, declarou que discorda da conclusão do inquérito da Polícia Civil e que o assassinato do guarda municipal e dirigente petista pelo agente penal e militante bolsonarista Jorge Guaranho foi motivado por intolerância política. 

“A defesa da vítima reafirma que a motivação do crime foi intolerância política. É contraditório alegar que Guaranho foi ao local após saber que existia uma festa com decoração do PT e que lá chegou gritando do carro palavras de ordem "Bolsonaro" "mito" e em seguida fez as ameaças, inclusive já com a arma e depois voltou e praticou o crime brutal sem motivação?”, questiona o advogado Ian Vargas. 

À Fórum, o advogado que explica que agora vão aguardar a posição do Ministério Público e revela que o celular de Jorge Guaranho foi apreendido para averiguação. 

 “Aguardaremos a posição do ministério público se irá oferecer denúncia ou se irá solicitar mais diligências. Tivemos conhecimento na tarde de quinta de que houve busca e apreensão do celular de Guaranho. Então aguardamos o relatório ser publicado no processo para vermos se a análise da perícia foi completa. É comum que demore e não é crível que tenha sido feito de um dia para o outro”, explica Ian Vargas. 
 

 

Bolsonarista estava bêbado e foi avisado de festa de Lula no assassinato de Marcelo Arruda
 


Em coletiva realizada na manhã desta sexta-feira (15) para revelar a conclusão do inquérito sobre o assassinato do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda pelo agente penal e militante bolsonarista Jorge Guaranho. 

De acordo com a delegada responsável pelo caso Camilla Cecconello, Jorge Guaranho tomou conhecimento da festa de Marcelo Arruda, que tinha como tema o PT e o Lula, durante um churrasco em que participava. Segundo a Cecconello, testemunhas afirmaram que uma pessoa que estava no mesmo churrasco que Guaranho tinha acesso às câmeras de segurança da Aresf.

A delegada também acredita que a pessoa que tinha acesso às câmeras “não mostrou por maldade”. Ela também revelou que a testemunha, dona do celular, está abalada, pois, não imaginava que, ao tomar conhecimento, Jorge Guaranho fosse fazer o que fez. 

Segundo a delegada, testemunhas relataram que no momento Jorge Guranho nada comentou sobre a festa de Marcelo Arruda e que ele permaneceu por mais de 1 hora no churrasco.

 

Guaranho provoca família de Marcelo Arruda


 
Segundo a policial, Guaranho estava alcoolizado. Ao sair do churrasco, ele foi até a Aresf, onde acontecia a festa de Marcelo Arruda, e começou a provocar ao colocar a música referente ao presidente Bolsonaro. 

Neste momento, começa a discussão entre Arruda e Guaranho. Segundo a delegada, a conversa girou em torno de Bolsonaro e Lula. O agente penal vai embora e, posteriormente, retorna no local. Segundo a investigação, neste momento Arruda, com a arma em punho, avisa ao agente penal que é policial e pede para Guranho ir embora, porém, o agente penal ignora a súplica de Arruda e inicia os disparos contra Arruda.

Com a conclusão do inquérito, Jorge Guaranho será indiciado por homicídio duplamente qualificado: motivo torpe e perigo comum, pois, colocou outras pessoas em risco de vida. 

 

Crime de ódio


 
Questionada o assassinato de Marcelo Arruda foi motivado por crime de ódio, a delegada afirma que não e que, segundo relato da esposa de Guaranho, ele retorna à festa porque "se sentiu humilhado". 

Ainda sobre a não qualificação como crime de ódio, Camilla Cecconello afirma que a investigação reconhece a motivação politica do assassinato de Marcelo Arruda, mas afirma que o contexto como um todo não se enquadra naquilo que é entendido como um ato que buscou impedir a manifestação de ação política. 

Para a delegada, Jorge Guaranho, em um surto de raiva, queria "acertar as contas com Marcelo Arruda", pois, de acordo com o relato de testemunhas, quando o agente penal retorna ao local ele diz à esposa de Arruda que a questão dele era com o guarda municipal e não com as outras pessoas presentes na festa. 

Também está descartada a especulação de que Jorge Guaranho e Marcelo Arruda se conheciam. 

Além disso, a delegada Cecconello revelou que, de acordo com testemunhas que estavam no mesmo churrasco que Jorge Guaranho, o agente penal havia consumido grande quantidade de álcool e "estava bastante alterado". 

Por fim, a delegada reforçou que Marcelo Arruda agiu em legítima defesa.