Após críticas a atuação dos militares na Amazônia, em especial às falhas nas buscas de Bruno Pereira e Dom Philips, que foram assassinados, Ciro Gomes (PDT) virou alvo de uma dura nota assinada pelo ministro da Defesa, o ex-comandante do Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e rebateu dizendo que as Forças Armadas estão politizadas e usadas de forma eleitoreira pelo seu "comandante supremo", Jair Bolsonaro (PL).
Na nota oficial, divulgado no site, Oliveira diz que "o Ministério da Defesa e as Forças Armadas repudiam, veementemente, as irresponsáveis declarações do senhor Ciro Ferreira Gomes, que, em entrevista a uma emissora de rádio de abrangência nacional, veiculada na terça-feira (21.6), acusou as Forças Armadas de serem coniventes com o crime organizado na Amazônia".
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"Tais acusações levianas afetam gravemente a reputação e a dignidade dessas respeitadas Instituições da Nação brasileira, cuja honra, valores e tradições se confundem com a própria identidade do Povo brasileiro", diz o texto, anuncia uma notícia-crime contra o presidenciável do PDT por "incitar, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade" e "propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de ofender a dignidade ou abalar o crédito das Forças Armadas ou a confiança que estas merecem do público".
Em sua réplica, Ciro diz que "a nota, que mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas, tenta distorcer a crítica que fiz ao notório descontrole que impera, em áreas da Amazônia, onde uma “holding do crime” age impunemente".
"Em nenhum momento, disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei -e reafirmo- que frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão", emendou.
Ciro ainda mira diretamente Oliveira, que assina a nota e tem atuado em conluio com Bolsonaro nas críticas ao processo eleitoral, ameaçando inclusive o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dizendo que colocará "programas próprios de verificação" da votação.
"Não me surpreende, portanto, que a iniciativa desta ação política contra mim -e contra a minha candidatura- parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político. Como fez, recentemente, em relação ao Tribunal Superior Eleitoral", afirma Ciro.
"Vale lembrar que, há pouco tempo, este mesmo ministro disse autoritariamente ao TSE que vai indicar nomes de militares para fiscalizar as urnas. Pergunto: qual competência constitucional ou legal dá autoridade a ele para indicar nomes para fiscalizar urnas eletrônicas? Indicação de militares para esta finalidade é típico desvio de função e finalidade. É caso, a meu ver, de improbidade administrativa por violação aos princípios da administração pública. Isto, sim, é claramente passível de punição legal", emendou o pedetista.
Leia a nota do Ministério da Defesa e a réplica de Ciro abaixo.
NOTA PÚBLICA
- Fui surpreendido por uma nota agressiva e intempestiva do comando das Forças Armadas, que, além de descontextualizar por completo o que afirmei em entrevista a radio CBN, ameaça-me com notícia crime, equivocadamente baseada nos artigos 286 do Código Penal e 219 do Código Penal Militar.
- A nota, que mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas, tenta distorcer a crítica que fiz ao notório descontrole que impera, em áreas da Amazônia, onde uma “holding do crime” age impunemente. As mortes trágicas de Bruno Pereira e Dom Phillips são os últimos episódios desta realidade pavorosa.
- Em nenhum momento, disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei -e reafirmo- que frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão.
- Ao responder pergunta específica do jornalista, exerci meu direito de liberdade de expressão, sem excesso ou qualquer discurso de ódio. Muito menos com desrespeito a uma instituição que prezo e defendo. Inclusive, afirmei, na mesma entrevista, que os militares são elementos essenciais a um Projeto Nacional de Desenvolvimento, além de ressaltar a importância do fortalecimento das Forças Armadas em um possível governo que eu venha a presidir.
- Assim como não confundo a ação das Forças Armadas com possíveis erros de alguns membros, não confundo, também, a essência da instituição com a linha imposta por comandos temporários que tentam submetê-la a caprichos políticos e interesses eleitorais.
- Não me surpreende, portanto, que a iniciativa desta ação política contra mim -e contra a minha candidatura- parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político. Como fez, recentemente, em relação ao Tribunal Superior Eleitoral.
- Vale lembrar que, há pouco tempo, este mesmo ministro disse autoritariamente ao TSE que vai indicar nomes de militares para fiscalizar as urnas. Pergunto: qual competência constitucional ou legal dá autoridade a ele para indicar nomes para fiscalizar urnas eletrônicas? Indicação de militares para esta finalidade é típico desvio de função e finalidade. É caso, a meu ver, de improbidade administrativa por violação aos princípios da administração pública. Isto, sim, é claramente passível de punição legal.