A prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, na manhã de quarta-feira (22), não foi apenas um acontecimento que deixou Jair Bolsonaro desnorteado e temendo pelo impacto negativo da notícia em sua já combalida campanha pela reeleição. Evidentemente, ações desse tipo trazem prejuízos a um candidato num período eleitoral, mas o crescente e descontrolado desespero do presidente da República, testemunhado até mesmo por interlocutores do seu círculo de convívio mais íntimo, tem outras razões.
Levar Ribeiro para trás das grades num inquérito que investiga a prática de tráfico de influência e corrupção na liberação de recursos públicos do MEC, que só ocorreriam com o pagamento de propina a pastores cupinchas do ministro, foi sobretudo um sinal claro para Jair Bolsonaro de que a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e a Justiça Federal, além de outras autoridades de esferas estaduais, estão trabalhando em cima de inúmeros casos flagrantes de roubalheira envolvendo seu governo, ele próprio, seus filhos, parentes e apadrinhados. O chefe do Executivo federal sabe que só não foi arrolado até agora porque tem foro privilegiado e só pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e por determinação da Procuradoria-Geral da República (PGR).
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Mas isso tem data para acabar e, pelo andar da carruagem, será em 1° de janeiro de 2023, caso o óbvio se confirme e Bolsonaro seja derrotado nas urnas em outubro. E é daí que vem o pânico, o mau humor, a agressividade e a tentativa tresloucada e desenfreada de se perpetuar no poder, seja via golpe, tumulto ou colocando as urnas eletrônicas sob suspeita.
Quem olha o governo de Jair Bolsonaro com uma lupa vê um oceano de absurdos e condutas pra lá de suspeitas. Das mansões adquiridas pelos filhos, sejam compradas, alugadas ou para instalar supostos institutos, aos contratos vultosos e vantajosos firmados pelo caçula com a interferência de autoridades da República, ou até mesmo os cheques que irrigaram contas da família por décadas e operados por milicianos do Rio de Janeiro. O fato é que tudo leva a crer que as autoridades seguem investigando cada palmo de irregularidade cometido pelo clã presidencial e pelo governo ultrarreacionário e moralista iniciado em 1° de janeiro de 2019.
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As relações de seu Ministério do Meio Ambiente com grupos de desmatadores, garimpeiros, invasores de terras indígenas, além do nome de um outro ex-ministro investigado nos EUA por contrabando de madeira ilegal, formam outros focos de investigação que seguem correndo, embora com discrição. A farra com dinheiro público no Ministério da Saúde na compra de vacinas desconhecidas a preços superfaturados no auge da pandemia, assim como a eterna festa dos militares, que bancam suas vidas nababescas com o erário e sob os auspícios do comandante-em-chefe, tudo, absolutamente tudo, segue sendo analisado e investigado pelas autoridades e será exposto assim que os envolvidos não tiverem mais a proteção da lei.
Para Jair Bolsonaro, a prisão de Milton Ribeiro mostrou de uma forma bastante realista e concreta como as coisas devem passar a se desenrolar quando ele descer a rampa do Palácio do Planalto. A cada novo cerco aos gatunos que saqueiam a República capitaneados pelo líder de extrema-direita, um novo choque de realidade faz tremer a família que se apossou do país.
São os ecos de realidade que cada vez soam mais próximos e que certamente ainda trarão muitos problemas para o presidente, sua esposa, filhos e “colaboradores” fiéis mais chegados.