Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quarta-feira (22), o professor e pesquisador Daniel Cara (USP) analisa a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e destaca o trabalho desempenhado pela Advocacia-Geral da União (AGU) que descobriu estranhas movimentações financeiras no Ministério da Educação (MEC).
“Esse escândalo começa graças às denúncias da Advocacia-Geral da União (AGU), de advogados que eram consultores jurídicos do MEC que, em dezembro do ano passado começaram a fazer denúncias internas e algumas delas vazaram para a imprensa e a partir desse fio se constituiu toda uma investigação feita por diversos veículos que tornaram pública a corrupção e o tráfico de influência no Ministério da Educação”, diz Daniel Cara.
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O professor também aponta para o fato de que o montante em dinheiro que pode ser ter servido ao balcão de negócios ilegais no MEC equivale à metade do orçamento de todas as universidades públicas do Brasil.
“Esse escândalo pode alcançar o patamar de R$ 18,5 bilhões, que é o que a Controladoria-Geral da União (CGU) do governo Bolsonaro - o caso é tão grave que nem eles conseguem esconder -, mas a CGU atribui uma movimentação estranha no MEC e no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na ordem de R$ 18,8 bilhões. Isso significa metade dos recursos anuais de todas as universidades públicas. Esses problemas começam na gestão de Ricardo Vélez Rodriguez (ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro). Esse governo é corrupto da cabeça aos pés”, critica.
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Posteriormente, Cara destaca o fato de que a primeira-dama Michelle Bolsonaro possui vínculos com os pastores que foram presos na operação desta quarta. “Não só o Bolsonaro (tem envolvimento no escândalo), a própria Michelle Bolsonaro. É importante dizer que esses pastores são vinculados a primeira-dama. A Michelle assumiu uma postura passiva durante a campanha eleitoral (2022) e ela não fez isso porque está desgostosa de fazer campanha ou porque não quer permanecer como primeira-dama, pelo contrário, ela sabe que tem os pés de barro. Ela também tem vínculos com setores que não são, necessariamente, idôneos das igrejas neopentecostais”.
Ao mencionar a participação de lideranças das igrejas neopentecostais no chamado “Bolsolão do MEC”, Daniel Cara faz questão de ressaltar que não se trata de uma crítica à fé das pessoas, mas sim do comportamento de alguns membros da referida linha religiosa.
“É importante ressaltar que a gente está falando da atuação desses pastores. A fé das pessoas é uma coisa que deve ser respeitada e é uma questão privada. O problema é quando a fé invade o terreno público e foi o que aconteceu nesse caso. Podem ter certeza de que, se as investigações prosperarem não vai ser só o Bolsonaro que vai estar envolvido, todo o esquema de relacionamento com os setores evangélicos, com a parte corrupta dos evangélicos e isso vai chegar também em Michelle Bolsonaro”, avalia Daniel Cara.
Por fim, Cara afirma que Damares Alves e o pastor Silas Malafaia romperam com Milton Ribeiro porque não tiveram os seus interesses atendidos. “Milton Ribeiro era uma figura muito próxima da Michelle Bolsonaro e também da Damares Alves. Em um determinado momento, Silas Malafaia e Damares rompem com Milton Ribeiro e não é porque eles discordavam da linha ideológica de Milton Ribeiro é, talvez, porque os interesses deles não estavam sendo atendidos”.
Confira abaixo a integra da entrevista: