Desde março de 2021, o publicitário Roberto Santos, 44, criador de um grupo fake pró-Bolsonaro vem causando discórdia entre os membros da comunidade moderada por ele.
A timeline é inundada de ataques e contra-ataques opondo, de um lado, o atual presidente e, de outro, Lula e o PT. No entanto, o que difere o grupo administrado pelo publicitário, de uma comunidade bolsonarista "raiz" é que a gritaria corre solta e ninguém retirado por atacar ninguém.
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"Não vamos aguentar comunistas aqui defendendo os petralhas", "Que desrespeito com o capitão", "Quem é o tosco administrador do grupo?", diz um apoiador sem saber que Roberto também posta as mensagens contra o presidente.
"Tem os disseminadores, que são os primeiros a enviar o conteúdo; os compartilhadores, que espalham para muitos outros grupos; e a maioria silenciosa, que está lá por ter sido adicionada e não saiu".
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A descrição de Roberto bate com o monitoramento em 10 grupos bolsonaristas que revelou que apenas 1,6% dos usuários postavam 50% dos conteúdos. Durante as 24 horas da medição, 85% dos integrantes não publicaram nada. "Essa turma, que consome o conteúdo sem buscar a verdade, é o meu foco", diz o publicitário ao colunista Rodrigo Ratier do Uol.
Para simular um ambiente de debate e apimentar ainda mais as discussões, o publicitário utiliza outros números de celular em seu storytelling no WhatsApp. Três desses números são personagens "provocativos" como o "Inocente" , o "militante de esquerda" e um personagem gay, de esquerda, casado e pai de casal de filhos adotados já na faculdade.
O personagem "inocente" tem por hábito compartilhar notícias absurdas e sempre pergunta se é verdade. Daí, no meio da madrugada, Roberto entra com outro personagem, o "militante de esquerda", para rebater as informações "rasgando o verbo". Em seguida o "inocente" reaparece dizendo que 'alguém precisa expulsar esse esquerdopata', 'apaguem isso' e assim por diante.
O terceiro perfil do personagem gay, que a princípio tinha sido aceito pelos bolsonaristas, passou a receber ataques após a inclusão de novos integrantes. "Quer lacrar? Espere a parada gay", "morde fronha", "baiano corno e viado" são alguns dos ataques recentes.
O portal Uol acompanha o grupo desde sua criação. Entre março de 2021 e fevereiro de 2022, foram trocadas 20.207 mensagens — média de 55 por dia. Já em abril, as pré-candidaturas colocadas fizeram o número de postagens dobrar para 100 mensagens.
Para ter uma ideia, na última segunda-feira (23), o grupo registrava 9 mensagens em defesa de Bolsonaro, publicadas por 3 pessoas, e 20 conteúdos contra Bolsonaro — 17 deles divulgados por números pertencentes a Roberto. Os outros 30 integrantes do grupo optaram pelo silêncio ou não viram as mensagens. "Tem vezes que eu posto e volto dois dias depois para ver quem leu. Tem conteúdos que quase ninguém lê. Não sei por que as pessoas entram em grupos e não interagem. Isso é algo que precisa ser estudado.", observou.
Ainda assim, o publicitário disse que o objetivo é continuar divulgando críticas e desmentidos, o que na opinião dele, tem provocado mudanças. "Posso até não transformar as pessoas que só acompanham o grupo em eleitores de esquerda, mas em Bolsonaro elas não votam mais. Acaba aquela história de querer defender porque ele seria honesto. Elas já sabem que ele não é".
Atualmente, ele conta com uma militância voluntária que intercalam publicações anti-Bolsonaro e pró-PT para servir como leitura matinal aos integrantes do grupo. Mas a ação deve durar até o início da corrida eleitoral. "Vou apagar o grupo antes das eleições. Tenho de me preservar".
Quem é Roberto Santos
Natural da Bahia, Roberto Santos (44) é publicitário de formação e pós-graduado em educação. Ele atua desde 2012 com gerenciamento de redes sociais e se define como um militante "cidadão". Disse que sempre fez campanha para o PT, embora nunca tenha se filiado a qualquer partido político.
Contudo, o choque com a eleição de Bolsonaro em 2018 provocou uma mudança na estratégia do publicitário, que passou a frequentar grupos bolsonaristas para "entender como era a comunicação deles".