O cientista político Mathias Alencastro afirmou ao Fórum Café desta segunda-feira (23) que a estratégia de Bolsonaro não prevê um golpe de Estado, apesar da retórica golpista. “A estratégia de golpe é para Bolsonaro continuar no jogo depois da derrota e não para ficar no poder; a estratégia de Bolsonaro não é de fato dar o golpe, mas abalar a República e a credibilidade das eleições para criar o mito do político golpeado, como Trump”, disse o pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, e professor de Relações Internacionais na UFABC.
Sem apoio do governo dos Estados Unidos, disse Alencastro, um golpe de Estado no Brasil não tem qualquer viabilidade. Bolsonaro sabe disso, avalia o cientista político, e busca repetir a estratégia de Trump. “Engana-se quem pensa que Trump imaginava manter o poder com a invasão do Capitólio”, disse, acrescentando: “O que Trump quis com o ato foi manter-se no jogo, polarizar ainda mais o debate, sair como candidato que perdeu as eleições por fraude e ocupar espaço para a eleição seguinte”. Para Alencastro, “é exatamente a mesma estratégia de Bolsonaro”.
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É neste contexto, na avaliação de Alencastro, que deve ser lida a visita de Elon Musk ao Brasil. “Creio que as interpretações sobre interesses econômicos ou tecnológicos da visita não captaram o essencial, o jogo político em torno da visita”. Ele explicou que a operação (não concluída até agora) de compra do Twitter, para além de uma operação comercial ou financeira, é política: “Musk deixou claro que o primeiro gesto que fará, se comprar o Twitter, é reabilitar Trump”. A compra, avaliou, “foi o ingresso de Musk no campo político da extrema direita”.
Alencastro qualificou de “entrevista bélica” a que Flávio Bolsonaro concedeu ao ao SBT. Nela, o senador voltou com um bordão da extrema direita, reiterando a acusação de fraude nas eleições americanas numa. Para o cientista político, dois dias antes dois dias antes de Musk aportar no Brasil, ela integra da estratégia que reúne o bilionário, Bolsonaro, Trump e o Telegram. “Cabe lembrar que o ataque às instituições é uma linha vermelha para o governo Biden apenas equiparável ao apoio ao terrorismo internacional”, disse o professor.
Bolsonaro não está fazendo o “jogo formal e convencional” de um golpe de Estado, sublinhou Alencastro. “Criando o mito do político golpeado por uma eleição fraudada, ele se posiciona para o cenário depois de 1 de janeiro de 2023”.
Quanto à renúncia de João Doria à sua pré-candidatura e à crise da chamada terceira via, Alencastro ironizou: “É a jornada do Titanic. Só que o iceberg estava visível há meses, e eles continuaram em frente”.
Assista à entrevista no Fórum Café: