BOLA DE CRISTAL

Acusado de corrupção por Renan Calheiros, Lira "prevê" denúncias contra governo de Renan Filho

"Aguardem", ameaçou o presidente da Câmara após senador citar o esquema "bolsolão do lixo"

Arthur Lira.Créditos: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados
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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), usou as redes sociais, nesta segunda-feira (23), para "prever" supostas futuras denúncias contra o governo de Renan Filho (MDB) em Alagoas. O parlamentar, adversário do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e de seu filho no estado, sinalizou que tem informações privilegiadas sobre supostas investigações. 

"Renan Calheiros falando em honestidade é a maior piada que existe. Isso é pra desviar (algo que RC sabe fazer) a atenção da enxurrada de denúncias que vão aparecer do governo do filho. Aguardem!", ameaçou Lira. 

A declaração do presidente da Câmara vem após Renan Calheiros o acusar de corrupção no âmbito do  "bolsolão do lixo", esquema que veio à tona neste domingo (22) e que consiste no superfaturamento nas compras de caminhões de lixo por meio das chamadas emendas do relator, que abastecem o orçamento secreto. 

"Bolsonaro e Artur Lira descobertos em novo esquema de corrupção em compras superfaturadas de caminhões de lixo. É mais um lixo podre e fétido que vem do orçamento secreto, no qual chafurdam seu projeto de poder", havia publicado Renan no domingo (22). 

Já nesta segunda-feira (23), o senador acusou Lira de "querer bater carteira de governadores e prefeitos", fazendo referência ao projeto de lei que o presidente da Câmara pretende colocar em votação e que limita a 17% o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transportes coletivos. 

"Os escândalos do orçamento secreto pipocam: barras de ouro no MEC, caminhões de lixo com azedume da corrupção. Antes, a Covaxin, AstraZeneca etc. Agora Arthur Lira quer bater a carteira de governadores e prefeitos", escreveu o senador. 

Bolsolão do lixo 

Um antigo esquema da velha política de utilização do serviço de limpeza urbana para compras superfaturadas foi retomado com força no governo Jair Bolsonaro (PL) por meio das chamadas emendas do relator, que abastecem o orçamento secreto.

Reportagem de André Shalders, Julia Affonso e Vinícius Valfré na edição deste domingo (22) do jornal O Estado de S.Paulo mostra que entre 2019 e 2022 o orçamento para compras de caminhões de lixo com recursos do governo federal aumentou 833%, passando de R$ 24 milhões para atuais R$ 200,2 milhões. O número de veículos comprados saltou de 85 para 453 - alta de 532%.

O esquema, que abastece pequenas cidades de redutos eleitorais de aliados do governo, funciona através de órgãos controlados pelo Centrão como a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e principalmente a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).

Por meio de emendas do relator, o destino é remetido a apadrinhados políticos, que fazem licitações em muitos casos com preços inflados. A entrega do veículo geralmente é feita em atos políticos com a presença dos parlamentares, como fez Fernando Collor de Mello (PTB) em Minador do Negrão, no interior de Alagoas, em agosto de 2021.

Segundo a reportagem, caminhões são destinados a pequenas cidades sem qualquer plano para construção de aterros sanitários, como determinado em lei. Em cidades, como Minador do Negrão, o caminhão é muito maior que a capacidade de produção de lixo. Com 15 metros cúbicos, o município leva dois dias para encher a caçamba do veículo, que custou R$ 361,9 mil.

Desde 2019, o governo já destinou R$ 381 milhões para essa finalidade. A reportagem identificou pagamentos inflados de R$ 109 milhões. A diferença dos preços de compra de modelos idênticos, em alguns casos, chegou a 30%.