FARRA DOS SATÉLITES

Além de acordo com Musk, militares compraram satélite por R$ 175 milhões no sigilo

Aeronáutica pagou por aparelho finlandês, em 2020, que segundo especialistas não serve para nada. Agora, Bolsonaro que gastar mais dinheiro, enchendo os bolsos do bilionário de quem é fã

Elon Musk, ao centro, em evento com Jair Bolsonaro..Créditos: Agência Brasil
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O governo de Jair Bolsonaro, que criou o hábito de colocar tudo no sigilo e realizar tratativas de maneira informal, sem a liturgia e a transparência necessárias a quem lida com dinheiro público, anunciou nesta sexta-feira (20) “acordos” e “parcerias” com empresa de tecnologia espacial Starlink, do bilionário sul-africano Elon Musk, para que satélites de baixa altitude seja lançados ao espaço e passem a monitorar a Amazônia, além de cooperarem na ampliação da conectividade à internet para os moradores de regiões remotas da floresta.

No entanto, não há um planejamento, detalhes, informações técnicas ou qualquer outra diretriz para a aquisição mirabolante que o líder de extrema-direita pretende realizar, que no fundo dá mesmo a impressão de que ele apenas quer se relacionar e parecer “próximo” de Musk, seu ídolo, a quem pretende dar muito dinheiro (público) e posar de aliado do magnata.

Militares já compraram satélite por R$ 175 milhões e no sigilo

O que causa mais curiosidade é a sanha de Jair Bolsonaro e de membros de seu governo por comprar satélites. Os aparelhos são necessários e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é quem habitualmente coordena os trabalhos sobre a necessidade de comprar novos sensores remotos para monitoramento de várias áreas do território brasileiro, sobretudo da Amazônia, para flagrar áreas de desmatamento e queimadas.

Só que a administração federal chefiada por Bolsonaro, abarrotada de militares, já andou ciscando nessa alçada. O Comando da Aeronáutica, no final de 2020, fechou um contrato de US$ 33,8 milhões (aproximadamente R$ 175 milhões no câmbio da época) para adquirir um satélite de baixa altitude da empresa finlandesa Iceye, com o pretexto de monitorar a região amazônica, numa transação sem licitação. Os militares também se recusaram a tornar públicas as informações sobre a compra, alegando que aquela era aquisição “reservada” e “sigilosa”.

Para piorar, especialistas dizem que o aparelho finlandês não tem utilidade da para realidade brasileira. Gilberto Câmara, cientista que presidiu o INPE entre 2005 e 2012, disse em entrevista ao portal Uol, à época da compra, que o satélite da Iceye é ótimo para diferenciar, do espaço, o que é gelo e o que é água, uma necessidade óbvia para países frios como a Finlândia, mas totalmente inapropriado para áreas de vegetação densa como a Amazônia, já que o sensor remoto sequer consegue diferenciar árvores de gramínea, típicas da região.