O deputado federal João Carlos Siqueira (PT-MG), mais conhecido como Padre João, teve suas redes sociais lotadas com comentários de ódio feitos por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).
Nos ataques, os bolsonaristas apontam suposta "incoerência" do parlamentar em ser um religioso e, ao mesmo tempo, apoiar o ex-presidente Lula (PT), que na terça-feira (5) defendeu que o aborto seja tratado como uma questão de saúde pública e que a legislação avance com relação ao tema.
"Padre abortista", "padre do Satanás", "vai pro inferno" e "falso profeta" estão entre os inúmeros comentários depreciativos direcionados ao petista. O volume de ataques fez o termo "padre" e "cristão" figurarem na lista dos assuntos mais comentados do Twitter.
Em conversa com a Fórum, Padre João reagiu à ação orquestrada de bolsonaristas e declarou que defende a vida "na concepção até a velhice, em todas as fases". "Agora, o que está prevalecendo nas redes com esses ataques é um moralismo hipócrita de quem enxerga avida apenas nos 9 meses de gestação. Pouco importa para eles, depois que a criança nasce, se tem comida, se tem teto, se vai ter educação", pontua o parlamentar.
De acordo com o petista, é justamente pelo fato de defender a vida que Lula o representa, pois o ex-presidente, segundo ele, "tem compromisso com a vida em sua amplitude". "Hoje temos mais de 20 milhões de brasileiros passando fome, déficit de moradia gigantesco que Lula conseguiu reduzir e, depois que saiu da presidência, se ampliou. É nesse sentido que o Partido dos Trabalhadores tem o programa que mais se aproxima da doutrina social da igreja", analisa.
Na avaliação do deputado, muitas vezes mulheres se submetem ao aborto por com uma falta de "política de dar segurança no sentido de garantir dignidade ao filho". "Às vezes a insegurança econômica leva uma mãe no desespero ao aborto, com essa ausência do Estado", diz.
Padre João diz entender o posicionamento de Lula sobre o aborto, mas pondera que "talvez não tenha sido feliz em levantar este assunto num momento em que prevalece tanta hipocrisia".
"Eles [os bolsonaristas] não estão nem aí com a família inteira que morreu soterrada essa semana, não estão nem aí com a questão da moradia. Não dá para ceder a esses ataques hipócritas e moralistas", sentencia.
Lula sobre aborto: "madame vai a Paris; mulher pobre morre"
O ex-presidente Lula (PT) falou abertamente nesta terça-feira (5) sobre uma pauta que, ao mesmo tempo em que é reivindicada por boa parte da esquerda como central, é usada por bolsonaristas como forma de ataque: o aborto.
Durante evento realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e pela Fundação Friedrich Ebert (FES) em São Paulo, o petista defendeu que o aborto seja tratado como uma questão de saúde pública e expôs a desigualdade mortal a que mulheres estão submetidas diante da proibição da interrupção da gravidez - exceto em alguns casos - no Brasil.
“Mulheres pobres morrem tentando fazer aborto, porque o aborto é proibido, é ilegal. A madame pode ir fazer um aborto em Paris, escolher ir para Berlim procurar uma boa clínica. Aqui não faz porque é proibido. Na verdade deveria ser transformado em uma questão de saúde pública e todo mundo ter direito, e não vergonha", declarou.
"Nós ainda precisamos avançar muito e essa pauta da família, essa pauta dos valores, é uma coisa muito atrasada. E ela é utilizada por um homem que não tem moral para fazer isso (...) Ele não respeita as mulheres, acha que é um objeto. É esse cidadão que tenta pregar valores para um grupo de brasileiros que acredita. Acho que nós temos que assumir essa discussão", prosseguiu Lula.