O áudio divulgado pelo diário conservador paulista Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (6) que mostra uma conversa da irmã do megamiliciano Adriano da Nóbrega, antigo barão do crime organizado no Rio de Janeiro, na qual ela afirma que a morte de seu irmão, notoriamente ligado ao clã Bolsonaro, era um desejo “do Palácio do Planalto” e que até cargos no governo estavam sendo oferecidos a quem eliminasse o criminoso, trouxe de volta ao horizonte e à memória dos brasileiros a “atrapalhada” e sem sentido operação policial que pôs fim à vida do chefão das milícias cariocas.
Adriano da Nóbrega, um ex-oficial do Bope, a unidade elite da PM do Rio de Janeiro, era o mais poderoso comandante das milícias que operam naquele estado e uma das figuras mais procuradas pela Justiça no Brasil. O assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, fez com que seu nome fosse lançado no rol dos suspeitos pelo crime e, a partir daí, embora já famoso nacionalmente, foi elevado à condição de procurado número 1 no país.
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A relação de Adriano com o clã Bolsonaro era óbvia e pública. Os filhos do presidente, há muito tempo e mesmo antes da chegada do pai à chefia do Estado, já tinham feito homenagens e defesas rasgadas do miliciano que controlava o crime organizado no Rio, inclusive dando emprego em seus gabinetes a familiares do ex-PM que virou gângster. Como Adriano caiu em desgraça e passou a ser perseguido implacavelmente pela Justiça e pela polícia depois do crime político que chocou o país antes da última eleição presidencial, os rumores de que o bandido poderia falar tudo que sabia sobre o submundo do bolsonarismo passaram a crescer.
Depois de alguns refúgios, Adriano se escondeu numa bela fazenda no município de Esplanada, no agreste da Bahia, no começo de 2020. Foi localizado por serviços de inteligência de órgãos de segurança de diferentes estados e então uma operação foi montada para prendê-lo, envolvendo agentes da PM baiana e da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
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O bote foi dado pela equipe formada por 70 policiais na manhã de um domingo, 9 de fevereiro de 2020. Por ser uma ação oficial, respaldada pela Justiça e contra um dos mais perigosos e poderosos criminosos do Brasil, a quem se desejava capturar vivo, para que contasse tudo que sabia sobre inúmeras ocorrências, a dinâmica dos fatos e a estratégia adotada na operação foram completamente “desastrosas”.
Adriano estava sozinho na sede de uma fazenda, uma casa isolada no meio de uma planície, sem edificações contíguas, armado apenas com uma pistola, e era cedo, portanto, havia luz do dia por muitas horas ainda. O local poderia ter sido cercado, o que forçaria o miliciano a se render, ou talvez fosse preciso atingi-lo de forma não letal com um atirador de elite, caso reagisse. Em situações dessa importância, toda a ação teria sido filmada, inclusive por mais de um agente, o que serviria como prova de lisura no cumprimento do mandado de prisão. Até operações simples, contra bandidos sem qualquer expressão, têm sido registradas em vídeo por policiais de todo o país. Nada foi registrado com uma câmera, no entanto.
No entanto, os 70 agentes fortemente armados, segundo a versão oficial, resolveram invadir a casa numa ação tática. Adriano teria reagido com sua pistola contra o verdadeiro exército que o buscava e então foi morto com rajadas de fuzil automático.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro e a Polícia Militar da Bahia dizem que não utilizaram drones para sobrevoar a fazenda e a sede do imóvel rural onde estava um dos mais importantes mafiosos do Brasil, alvo de dezenas de processos criminais, mas moradores da região confirmaram que viram um desses aparelhos pairando sobre a casa momentos antes dos tiros.
Familiares de Adriano da Nóbrega, mesmo antes dos áudios vazados agora, já afirmavam que o criminoso queria se entregar às autoridades, mas que resolveu fugir porque sabia que “poderosos” já tinham decretado sua morte, naturalmente por ele saber demais. Com as informações de que Jair Bolsonaro e seus filhos teriam supostamente fomentado a execução do miliciano, inclusive oferecendo cargos na administração federal, de acordo com uma irmã do morto, as suspeitas sobre o clã presidencial aumentam e encurralam cada vez mais os políticos que mantiveram o chefão do crime organizado carioca com um de seus mais próximos aliados durante anos.