Em artigo divulgado nesta sexta-feira (25), o ex-ministro José Dirceu defendeu a indicação de Geraldo Alckmin (Sem partido) para compor a chapa de Lula (PT) à Presidência e a formação de uma ampla aliança, incluindo forças políticas que apoiaram o golpe contra Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Segundo Dirceu, "nas esquerdas, há forças que se opõem à federação, porque não querem Lula e um programa anti-neoliberal".
Te podría interesar
"Precisamos separar o joio do trigo e nos concentrar em viabilizar a federação. Queiramos ou não, esta é hoje a forma de construir nossa unidade, a partir de avaliações políticas concretas, de como manter a autonomia dos partidos, com que quórum para a tomada de decisões, como enfrentar o desafio da escolha de candidatos e políticas, programas, ou mesmo porque correm o risco de perder congressistas", escreve o ex-ministro.
"Da mesma forma, há divergências sobre a aliança (necessária) com outras forças políticas –algumas das quais se opuseram a nossos governos e mesmo apoiaram o impeachment da presidenta Dilma– e sobre a escolha e indicação de Geraldo Alckmin como vice na chapa com Lula", emenda Dirceu.
Para ele, é Jair Bolsonaro (PL) "quem impõe a nós alianças com o centro" ao colocar "a democracia e os destinos do Brasil".
"Não é pouco recordar que fomos retirados do governo por um golpe parlamentar-judicial-midiático e por uma guerra jurídica que nos conduziu ao governo Bolsonaro de extrema-direita, negacionista, obscurantista, fundamentalista, de desconstrução nacional. Um governo não apenas com vocação autoritária, mas com determinação de sabotar o calendário eleitoral, colocando em dúvida as urnas eletrônicas e que, com certeza, não reconhecerá, se derrotado, o resultado e fará tudo para impedir nossa vitória e nossa posse", diz.
Leia o artigo na íntegra
A correlação de forças nos impõe aliança com o centro
Estamos vivendo um momento histórico que exige das esquerdas e dos que entendem que a democracia e os destinos do Brasil estão em risco –e comungam do mesmo projeto político e de desenvolvimento nacional que nos levou a governar o país– lutar para garantir nossa unidade política em torno da candidatura de Lula.
Não é pouco recordar que fomos retirados do governo por um golpe parlamentar-judicial-midiático e por uma guerra jurídica que nos conduziu ao governo Bolsonaro de extrema-direita, negacionista, obscurantista, fundamentalista, de desconstrução nacional. Um governo não apenas com vocação autoritária, mas com determinação de sabotar o calendário eleitoral, colocando em dúvida as urnas eletrônicas e que, com certeza, não reconhecerá, se derrotado, o resultado e fará tudo para impedir nossa vitória e nossa posse.
Há consenso no país sobre a gravidade da situação social da maioria de nosso povo trabalhador, dos riscos que nossa nação corre em um mundo em transformação geopolítica e científica, dos impasses de nossa economia e dos desafios de nossa indústria, da necessidade urgente de financiar uma revolução educacional, científica e tecnológica, de uma redistribuição da renda e riqueza.
As esquerdas, apesar da ampla base eleitoral de Lula e mesmo do PT, não são maioria no país e não têm a hegemonia. Só podem contar com o voto e com o nível de organização, consciência política e capacidade de luta dos trabalhadores e dos que as apoiam. Nos últimos anos, sofremos derrotas políticas, eleitorais e sociais sucessivas e mudanças no mundo do trabalho que enfraqueceram nossa capacidade de resistência e luta.
Historicamente, somos alternativa de governo. Temos um legado e a força e liderança de Lula, mas o momento político e histórico exige enfrentar um adversário que recorre à violência e ao ódio, que renega a democracia e que arma seus seguidores, usa e abusa das fake news e busca apoio para impor no país uma ditadura mesmo com ares democráticos como foi a de 1964 que conviveu com eleições e Judiciário e Congresso sem poderes. É bom lembrar que lutamos unidos contra a ditadura militar em frentes amplas e terminamos por derrotá-la não sem antes percorrer caminhos errados e acumular derrotas.
Quem impõe a nós alianças com o centro é a correlação de forças e o adversário. Não depende de nós. O que nos resta é fazer todos os esforços e não desistir de, em 1º lugar, unir as esquerdas numa federação e em torno da candidatura de Lula e de um programa de centro-esquerda; e, a partir dela, construir alianças com as demais forças políticas, econômicas e sociais, porque sem organização, mobilização e formação de uma consciência política popular não venceremos e, se vencermos, não governaremos.
Não se trata apenas de vencer, o que não será fácil. Mas de governar e superar os desafios que, sabemos, começarão com a desfavorável correlação de forças no Congresso, na mídia, no Judiciário, no conflito de interesses sobre como retomar o crescimento e distribuir renda, combater a pobreza e a fome, criar empregos, como superar o neoliberalismo e colocar o Brasil em seu lugar no mundo.
Basta olhar para nosso entorno geopolítico, a América do Sul, e para a Europa para vermos como as forças politicas conservadoras e de direita manietam, desestabilizam e inviabilizam governos progressistas ou de esquerda.
Federação, uma necessidade
No nosso campo, nas esquerdas, há forças que se opõem à federação, porque não querem Lula e um programa anti-neoliberal. Precisamos separar o joio do trigo e nos concentrar em viabilizar a federação. Queiramos ou não, esta é hoje a forma de construir nossa unidade, a partir de avaliações políticas concretas, de como manter a autonomia dos partidos, com que quórum para a tomada de decisões, como enfrentar o desafio da escolha de candidatos e políticas, programas, ou mesmo porque correm o risco de perder congressistas.
Da mesma forma, há divergências sobre a aliança (necessária) com outras forças políticas –algumas das quais se opuseram a nossos governos e mesmo apoiaram o impeachment da presidenta Dilma– e sobre a escolha e indicação de Geraldo Alckmin como vice na chapa com Lula.
O governo Bolsonaro iniciou uma ampla operação de disputa do eleitorado, seja com uma guerra suja ilegal, inclusive com financiamento nas redes e subliminar nas mídias, esta paga com dinheiro público. Um de seus focos, no momento, é no eleitorado descrente com a chamada 3ª via. Usa e abusa da máquina administrativa e do Orçamento público para disputar bases eleitorais no Nordeste e em todo país. Não vacilará em usar da violência e tumultuar o processo e a campanha eleitoral.
O que está em risco, insisto, não é apenas a democracia, mas o próprio processo eleitoral. O que exige de nós todo o esforço possível para alcançar a unidade de todas as forças políticas e sociais dispostas a apoiar Lula e retomar o fio da história interrompido como tantas vezes em nosso Brasil, a última pelo golpe de 2016. Não podemos perder esta oportunidade histórica. Nossa palavra de ordem tem que ser a unidade das esquerdas como base e núcleo político de uma Frente Democrática para derrotar Bolsonaro.
*Artigo publicado originalmente no site Poder 360.