ULTRADIREITA

Quem é o ditador Orbán, anfitrião de Bolsonaro na Hungria?

Idêntico a Bolsonaro, Orbán molda seu discurso amparado pelo nacionalismo e a defesa do cristianismo e da "família tradicional" - em uma espécie de "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" húngaro

Viktor Orbán na posse de Jair Bolsonaro.Créditos: Gabinete de Imprensa do Primeiro Ministro / Balázs Szecsodi
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Às vésperas de uma eleição que pode tirá-lo do poder depois de 12 anos, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, se reúne com Jair Bolsonaro (PL) em Budapeste nesta quarta-feira (17) no desespero de conseguir um trunfo para que possa se manter à frente de uma ditadura de extrema-direita aos moldes que o colega ultraconservador sonha implantar no Brasil.

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Fundador do partido Fidesz, que migrou para a ultradireita após a Hungria sair da área de influência da então União Soviética, em 1989, Orbán implantou um regime autoritário conservador em 2010, oito anos depois de já ter exercido o cargo de primeiro-ministro da antiga República Popular.

Buscando exportar seu "modelo húngaro" de governo, Órban enfrenta uma frente ampla de partidos que se juntou em torno do candidato conservador Péter Márki-Zay - fervoroso católico, pai de sete filhos e prefeito de uma pequena cidade no sudeste do país - unicamente para tentar destituir o ditador.

Na pesquisa mais recente do Republikon Institute, os opositores estão apenas dois pontos atrás do atual premiê.

Nesta quarta-feira (16), Orbán recebeu mais um duro golpe. O Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu validar um regulamento que permite suspender o repasse de fundos europeus a países onde a democracia corre risco, em recado direto ao ditador húngaro. Além da Hungria, apenas a Polônia, que rejeitou recepcionar Bolsonaro, foi atingida.

Baiana, Marcele Bacelar Kruljak, 35 anos, que mora há seis anos na Hungria não teve dúvidas ao definir o governo de Orbán em entrevista ao site da Rádio França Internacional (RFI): "Uma ditadura".

Sou contra a gestão de Viktor Orbán, principalmente por ser imigrante”, diz, ressaltando o preconceito propagado pelo premiê à população. “É racismo, não querem se misturar, têm medo de ver as origens se perderem”.

A xenofobia é uma das principais características de Orbán. Na crise migratória europeia de 2014, construiu uma cerca de arame farpado ao longo da fronteira com a Sérvia para conter o fluxo de refugiados a caminho da Alemanha e orquestrou uma campanha com países da Europa Oriental para rejeitar uma política comum de cotas para receber imigrantes.

Idêntico a Bolsonaro, Orbán molda seu discurso amparado pelo nacionalismo e a defesa do cristianismo e da "família tradicional" - em uma espécie de "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos" húngaro.

Até mesmo apoiadores admitem atos ditatoriais do premiê húngaro, que censurou a atuação da mídia. 

“Orbán tem uma visão política interessante, simpatizo com esse modelo de gestão. Pode ser verdade que ele controle a imprensa, mas ele só distribui o que precisa ser distribuído”, disse à RFI o bolsonarist Alexandre Massarini, 42 anos, de Campinas (SP) e que mora na Hungria há quatro anos.

Apesar dos muitos pontos que unem o ditador húngaro ao presidente brasileiro, Massarini ressalta o modo falastrão de Bolsonaro como principal diferença.

"Não conhece o poder de seu próprio discurso como presidente, precisa tomar cuidado”, diz sobre o presidente brasileiro, enquanto para ele Orbán se controla melhor “mesmo que às vezes abra a boca quando não precisa”.