Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), fez um duro discurso contra o presidente Jair Bolsonaro na abertura do ano judiciário de 2022, nesta terça-feira (1º). O magistrado voltou a criticar o vazamento de inquérito sobre as urnas eletrônicas por parte de Bolsonaro.
"Informações sigilosas fornecidas pela Polícia Federal foram vazadas pelo presidente nas redes sociais, divulgando dados que auxiliam milícias digitais e hackers de todo o mundo que queiram invadir nosso equipamentos. O presidente vazou a estrutura interna da TI [tecnologia da informação] do TSE", declarou Barroso.
"Tivemos que tomar uma série de reforços nos nossos sistemas para nos protegermos. Faltam adjetivos para qualificar a atitude deliberada de facilitar ataques criminosos", completou. "A maior segurança das urnas brasileiras é que elas nunca entram em rede. Então nesse esse vazamento permite a invasão", ponderou o presidente do TSE.
O vazamento de informações sobre o sistema eleitoral voltou à tona nos últimos dias após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinar que Bolsonaro prestasse depoimento presencialmente à PF no inquérito que apura essa questão.
Em relatório enviado pela PF ao STF em novembro do ano passado, a delegada responsável pelo caso, Denisse Ribeiro, apontou que Bolsonaro cometeu crime ao vazar inquérito sigiloso em entrevista e nas redes sociais.
“Os elementos colhidos apontam também para a atuação direta, voluntária e consciente de Filipe Barros Baptista de Toledo Ribeiro e de Jair Messias Bolsonaro na prática do crime previsto no artigo 325, §2°, c/c [combinado com o] 327, §2°, do Código Penal brasileiro, considerando que, na condição de funcionários públicos, revelaram conteúdo de inquérito policial que deveria permanecer em segredo até o fim das diligências”, diz um trecho do documento.
“A live presidencial foi realizada com o nítido propósito de desinformar e de levar parcelas da população a erro quanto à lisura do sistema de votação, questionando a correção dos atos dos agentes públicos envolvidos no processo eleitoral, ao mesmo tempo em que, ao promover a desinformação, alimenta teorias que promovem fortalecimento dos laços que unem seguidores de determinada ideologia dita conservadora“, afirma ainda a PF.
Entenda
Em agosto de 2021, durante entrevista, Bolsonaro divulgou informações sobre o inquérito, além de dados de servidores do TSE, para atacar e colocar em xeque a segurança das urnas eletrônicas, em sua narrativa de afirmar que há “fraude” nas eleições.
Alexandre de Moraes, então, solicitou a investigação à PF por entender que o caso se relacionava com o inquérito das fake news.
A entrevista em que Bolsonaro divulgou as informações sigilosas foi cinco dias depois da live de 29 de julho em que o presidente havia levantado suspeitas sobre a segurança das urnas.