A chegada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para um terceiro mandato na Presidência da República vem deixando os bolsonaristas e o próprio Jair Bolsonaro (PL) desesperados, muito por conta dos anúncios feitos pelo presidente eleito de que colocará fim a diversas inciativas e projetos de cariz extremista implantados pela caótica gestão do líder reacionário.
Assunto do dia no gabinete de transição para o futuro governo, a extinção de uma dessas medidas que tiveram origem com a chegada do radical de extrema direita ao Palácio do Planalto gerou um debate intenso nas redes: o fim das escolas cívico-militares.
Transformar estabelecimentos de ensino públicos, municipais e estaduais, em espécie de quarteizinhos foi uma das tônicas do governo radical de Bolsonaro, que previa converter 2.016 unidades educacionais nesses centros autoritários e anacrônicos, mas que só conseguiu implantar de fato 202.
Concepção equivocada, ultrapassada, sem sentido e motivo de piada em outros países, as escolas cívico-militares passaram os últimos quatro anos colecionando resultados pífios e casos de violência, autoritarismo e agressividade, já que esses locais são dirigidos por militares das Forças Armadas, pagos diretamente pelo Ministério da Defesa. Houve inclusive casos de abuso sexual atribuídos a esses servidores fardados que “trabalham” nessas escolas.
“Eu considero que a escola cívico-militar é um equívoco que tem que ser revisto. É preciso um processo de transição para rever práticas pedagógicas adotadas pelas escolas que aderiram ao programa", afirmou Daniel Cara, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (USP), além de integrante do grupo de trabalho da Educação no gabinete de transição do futuro governo Lula, numa entrevista à BBC Brasil.
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Reginaldo Lopes (MG), afirmou que existe uma clara tendência de que essas unidades retomem a normalidade, pondo fim às patéticas e mofadas coreografias militares, assim como as fardinhas démodé, que trazem uma espécie de nostalgia da Ditadura Militar (1964-1985) para as vivandeiras modernas admiradoras do dantesco regime de exceção.
“A tendência é que o programa seja encerrado", disse o parlamentar mineiro também à BBC Brasil.
Já Bia de Lima, deputada estadual eleita por Goiás, pelo PT, que é também presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego), disse que, quando uma unidade cívico-militar tem um bom desempenho em algo, logo os apoiadores dão os louros pela conquista aos militares que dirigem o local, esquecendo do trabalho dos educadores reais que atuam nas salas de aula.
“O problema é que as pessoas olham para o desempenho dos colégios militares e acham que os bons resultados são resultado dos militares e não da quantidade de recursos que são empregados nessas unidades”, explicou a sindicalista e deputada eleita.
Só que os apoiadores do modelo arcaico e bizarro seguem o defendendo. Para Valéria Ramirez, diretora de um colégio público que aderiu ao programa de militarização, segundo uma reportagem do portal UOL, a repercussão do fim das escolas cívico-militares teria sido “ruim”.
“Eu tenho recebido várias consultas nos últimos dias e os pais disseram que se o programa acabar e a escola deixar de ser cívico-militar, eles vão tirar os filhos daqui”, contou Valéria.
Por fim, Davi Lima, que é presidente e fundador da Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil), afirmou que mesmo com o fim do programa federal turbinado por Bolsonaro, se de fato ocorrer, a sociedade se incumbirá de lutar para mantê-lo.
“Vai ser uma frustração muito grande porque é um modelo que vem dando certo. Ainda não há nenhuma posição oficial, mas a gente espera que isso não vá pra frente. Mas se for, acho que as escolas e as comunidades vão procurar formas de manter o modelo”, opinou Lima.