José Múcio Monteiro Filho, tido como nome certo para ministro da Defesa do governo Lula, encontrou-se com Jair Bolsonaro depois de ter acertado sua nomeação com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo, o virtual ministro sofre os primeiros ataques: é acusado de ser lobista de empresas para contratos no governo federal e no próprio Tribunal de Contas da União, que deixou em 2020, depois de onze anos.
O encontro com Bolsonaro é uma informação do jornalista Ricardo Noblat, do portal Metrópoles: “Monteiro Filho procurou Bolsonaro depois de ter sido escolhido por Lula. A conversa durou pouco mais de meia hora, segundo Bolsonaro contou a alguns dos seus auxiliares. Os dois conviveram por mais de duas décadas na Câmara quando ambos eram deputados”.
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Segundo a reportagem, Lula teria orientado José Múcio a procurar generais da ativa e da reserva e tratar da transição em sua área. Foi por sugestão de Monteiro Filho que Lula desistiu de montar um grupo de transição específico para a área militar.
José Múcio teria recebido, em dezembro de 2020, um convite de Bolsonaro para integrar o governo, mas a ideia não prosperou. Na solenidade que marcou a sucessão na presidência do TCU, quando ele se aposentou, Bolsonaro fez um elogio aberto ao ex-colega de Câmara: “Zé Múcio, me permite, eu sou apaixonado por você. Gosto muito de Vossa Excelência".
Lobista em Brasília
A revelação da atividade do José Múcio como lobista é do jornalista Luiz Vassallo, do Estadão. Em janeiro de 2021, o futuro ministro abriu a Jmmf Consultoria, em Brasília. No registro, consta a atividade de “consultoria em gestão empresarial”. E começou a atuar como lobista.
O próprio José Múcio confirmou a atividade ao jornalista, mas evitando a qualificação de lobista.
Ele afirmou que faz “engenharia política” para clientes. “Eu uso meu network de 40, 50 anos de política e abro portas, marco para a pessoa ser recebida”, afirmou. Ele rejeitou a denominação de lobista: “Lobby é se eu cobrar por êxito. Eu não cobro por êxito. Eu não tenho premiação”. Mas não explicou como é remunerado, nem o valor total dos contratos de sua empresa.
Além da remuneração como lobista, José Múcio recebe duas aposentadorias: como ex-deputado federal (desde 2009) e como ex-integrante do TCU (desde 2021).
No âmbito de processos no TCU, segundo apurou o Estadão, a empresa de José Múcio é mencionada para prestar serviços à Seguradora Líder, que já foi responsável pela administração do DPVAT – o seguro obrigatório para motoristas. Segundo os registros do TCU, houve pelo menos duas reuniões na corte: em 10 e 18 de agosto.
A situação comporta questionamentos éticos. Na última década, o TCU apurou uma série de suspeitas de irregularidades em contratos da Líder na gestão do seguro usado para indenizar vítimas de acidentes de trânsito, cujo montante recolhido é de R$ 4 bilhões por ano. E foi o próprio José Múcio o relator de um pedido do Congresso para auditar o DPVAT, em 2018. Nenhum dos casos resultou em conclusão que levasse a seguradora a ser punida.