Com os resultados da apuração consolidados ainda no primeiro turno das eleições, em 2 de outubro, a informação de que o bolsonarismo e outras vertentes políticas de direita menos radicais tinham conseguido números muito expressivos de assentos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, aumentando suas presenças já massivas no Congresso, um certo desespero tomou conta da esquerda no país, que passou a projetar futuras dificuldades de governabilidade, caso Lula (PT) fosse eleito no dia 30 do mesmo mês, na segunda volta.
No entanto, a dura realidade prevista parece não estar se confirmando, a ponto de a aproximação com o futuro chefe de Estado que retorna ao Palácio do Planalte de muitos parlamentares até da bancada evangélica, por exemplo, sobretudo após declarações de lideranças “religiosas” do segmento, como Silas Malafaia, que disse estar orando pelo petista, e de Edir Macedo, que propôs “perdoá-lo” e mandou um “bola pra frente”, fez até com que um deputado evangélico de núcleo duro do Centrão, Fausto Pinato (PP-SP), ironizasse a debandada pró-governo eleito e o abandono de Jair Bolsonaro (PL).
“Deus tocou no coração da bancada evangélica mais rapidamente que no do Centrão”, brincou Pinato.
Mas o Centrão laico também tem sentido o “coração ser tocado”. Tirando os nomes mais reacionários ligados ao bolsonarismo raiz, que estão em praticamente todos os partidos do grupo, muitos deputados e senadores do PP, PSD, União Brasil e do Solidariedade já caminham para um acordo de integração à base aliada de Lula e as conversas, que já estão adiantadas e devem se intensificar nos próximos dias, predizem que o apoio ao seu governo será amplo.
Para se ter uma ideia do drama para Bolsonaro e seu fanático séquito parlamentar, sua própria sigla, o PL, que elegeu 99 deputados federais, teria um coeficiente de aproximadamente 40 desses políticos rumando para a base do governo recém-eleito, o que causou pânico e fúria generalizada em figuras mais extremistas da sigla. Para piorar, o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, deve se reunir com Lula na próxima semana, de onde trará uma decisão ante duas possibilidades: permitir que quase metade de seus filiados com mandato na Câmara se tornem realmente situação, ou anunciar uma oposição “responsável” e soft, para não ficar fora do orçamento do Planalto.