O professor de Relações Internacionais, Reginaldo Nasser, definiu como complexos os conflitos atuais na geopolítica mundial, envolvendo, principalmente, Ucrânia, Rússia e Estados Unidos. Apesar disso, há questões claras que precisam ser debatidas.
Na avaliação de Nasser, evidentemente, há interesses obscuros, que contradizem o simples desejo de manter a soberania do povo ucraniano, considerou, durante entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (27).
“Os Estados Unidos querem expandir sua influência na Ucrânia por várias razões”. O professor mencionou um exemplo do interesse estadunidense no país do Leste Europeu. “O filho do Biden ganhou bilhões de dólares em negócios na Ucrânia”.
Hunter Biden, filho do atual presidente Joe Biden, do Partido Democrata, é advogado e, em 2014, passou a fazer parte da diretoria da Burisma Holdings, a maior empresa privada de gás da Ucrânia. Ele fez esse movimento depois de buscar oportunidades de negócios fora dos Estados Unidos, contando com a influência do pai.
Em relação ao fato de o governo de Biden estudar a possibilidade de mandar US 500 bilhões para a Ucrânia, Nasser disse que essa iniciativa faz parte de uma tradição do país.
“Há uma ambiguidade forte entre os democratas. Esse pessoal que está no governo é a turma do Bill Clinton. Eles sempre pensaram em expandir a influência americana na região, principalmente mandando dinheiro. A Rússia e a China, por sua vez, não têm motivação de ampliar hegemonia usando esse modelo”, explicou.
O professor avaliou que o envolvimento do governo estadunidense no conflito também é uma tentativa de mudar o atual cenário de popularidade baixíssima do seu presidente. “O Biden quer mostrar os músculos americanos”.
Professor não acredita em guerra envolvendo grandes potências
Questionado sobre a possibilidade de uma guerra na região, envolvendo as grandes potências, Nasser afirmou que não acredita que isso possa ocorrer.
“Os Estados Unidos não vão mandar seu Exército para a Ucrânia. Eles acabaram de sair do Afeganistão. Eles dizem que querem preservar a soberania do povo, falando pelos ucranianos. Mas a população local não quer bases militares, de qualquer país, dentro de seu território”, destacou.
Nasser apontou que não houve guerra de grandes potências na Síria e na Líbia. Portanto, ele não vê como isso possa acontecer agora. “Disputa interna vai ter entre grupos apoiados pelos Estados Unidos e Europa Ocidental e grupos apoiados pela Rússia”.
Putin não quer mísseis na fronteira com a Rússia: “Isso é inegociável”
O professor ressaltou, também, que, apesar de ter muitas divergências sobre a forma pela qual o presidente russo, Vladimir Putin, conduz a política do país, entende seu posicionamento no conflito com a Ucrânia.
“Ele não quer a instalação de mísseis na fronteira com a Rússia. Isso é inegociável. É uma questão de segurança nacional. O Putin tem uma formação que leva em conta a história”, resumiu.
Nasser afirmou, ainda, que outras questões estão provocando tensão no panorama geopolítico.
“A Europa inteira depende do gás da Ucrânia. A Alemanha, por exemplo, quer que as coisas fiquem como estão, ou seja, que a Ucrânia não vá para a Otan”, disse.