Defensor do combate à corrupção e à criminalidade, o presidente Jair Bolsonaro parece não ter estendido esse discurso ao seu partido político. Depois de rachar com o PSL, ficar meses sem uma sigla e fracassar ao criar a sua própria, Bolsonaro escolheu o PL para concorrer à reeleição em 2022.
O detalhe é que, entre os presidentes regionais que vão organizar o palanque do mandatário Brasil afora, há um condenado a prisão por tortura e envolvidos em lavagem de dinheiro, rachadinhas e corrupção.
Segundo um levantamento feito pelo Estadão, ao menos 18 dos 27 dirigentes foram ou ainda são alvo de algum tipo de investigação. Destes, quatro respondem a processos que se arrastam na Justiça e dois tentam reverter condenações.
Presidente do PL em Goiás, Flavio de Paula Canedo foi condenado a cinco anos de prisão e está inelegível por oito anos. De acordo com a denúncia, feita em 2002, o político e dois comparsas torturaram e ameaçaram Frederico Daniel de Carvalho, para tentar uma confissão dele sobre o furto de uma espingarda. Eles convidaram o homem para uma festa, onde o golpearam com uma paulada na cabeça.
Depois, tentaram afogá-lo enfiando a cabeça numa bacia com água; ataram pernas e braços com uma corda que passava pelo pescoço e, com um cordão fino, amarraram e puxaram a língua do rapaz.
Para a justiça, ficou comprovado que o crime foi premeditado e que Canedo agiu para “atrair a vítima para o local dos fatos com o propósito específico de submetê-lo a sessões intermináveis de torturas”.
Rachadinhas, corrupção passiva e lavagem de dinheiro
Novo presidente do diretório do Pará, o senador Zequinha Marinho carrega a marca de um escândalo de rachadinhas. Ele responde na Justiça por ter cobrado, quando era deputado federal, uma “caixinha” para os cofres do PSC, seu antigo partido. Foi acusado pelo Ministério Público de concussão e chegou a confessar a prática em 2011, quando o caso foi revelado, argumentando que a prática era corriqueira e que não havia ilegalidades.
João Maia, que é chefe do PL no Rio Grande do Norte, foi acusado, em 2018, de peculato, corrupção passiva, associação criminosa, crimes contra licitações e lavagem de dinheiro. A ex-esposa, o ex-sogro e um sobrinho dele também foram denunciados. Hoje, o processo está suspenso, graças a habeas corpus concedidos em favor de alguns dos investigados.
Já Édio Lopes, que é presidente do partido em Roraima, responde a uma ação penal no STF por empregar funcionários fantasmas na época em que era deputado estadual, entre 2005 e 2006. Desde fevereiro de 2021, os autos estão com o ministro revisor.
Presidente do partido no Paraná, o deputado Fernando Giacobo já respondeu, anos atrás, por formação de quadrilha em suposto esquema de sonegação de impostos e também por sequestro e cárcere privado. Ambos os processos, abertos em 2000 e 2002, foram extintos por prescrição, sem que o mérito fosse julgado.
O parlamentar criticou a menção às ações em que ele foi réu e hoje estão arquivadas. "Eu já respondi. O que eu tinha foi extinto ou por prescrição ou por julgamento. Não respondo a ação, a processo administrativo, a inquérito administrativo, a nada. Quem não respondeu a alguma ação no passado? Você, um parente seu, pode ter respondido", disse. "Quando foi feita a Lei da Ficha Limpa, falei que se não julgassem tudo o que eu tinha pendente eu não seria candidato em 2010. Minha vida zerou e fui para a eleição ‘zeradinho da Silva’".
Em Sergipe, o partido é controlado pelo empresário Edivan Amorim, acusado de crimes na obtenção de um empréstimo junto ao Banco do Nordeste, em 2012. Uma outra operação de crédito fraudulenta levou Edivan a ser condenado pela Justiça do Paraná, em 2000, no caso do Banestado. O inquérito está trancado desde o fim do ano passado, porque Edivan e outros investigados conseguiram um habeas corpus que suspendeu as investigações.
Ao Estadão, o dirigente sergipano afirmou que o inquérito " foi motivado por denúncia anônima, sem nenhuma comprovação de absolutamente nenhuma irregularidade". Sobre o caso do Banestado, alega que venceu recurso no Superior Tribunal de Justiça.
Além dos presidentes do PL nos Estados, o dono do partido, Valdemar da Costa Neto, foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do mensalão. O ex-deputado foi condenado a sete anos e dez meses de prisão. Depois de cumprir dois anos e meio da pena, em 2016, recebeu indulto do Supremo Tribunal Federal (STF).