O sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, avalia que o ex-presidente Lula (PT) tem amplas condições de vencer a eleição já no primeiro turno. Ele participa do Webinário Fórum, que será realizado nesta segunda-feira (24), das 19 às 21h30, online, pela plataforma Zoom, com certificado. A participação é gratuita para sócios, membros e apoiadores da Revista Fórum (inscrições aqui). Para não sócios (clique aqui para se associar), o valor é R$ 100 (inscreva-se aqui).
“Lula é o maior favorito que temos desde quando existem pesquisas de opinião no Brasil. Nenhuma eleição moderna teve um candidato tão favorito quanto ele. O que não quer dizer, é óbvio, que tenhamos condições de afirmar, com segurança, que ele vai ganhar no primeiro ou no segundo turno. O que é possível dizer é que ele é favoritíssimo a ganhar a eleição”, afirma Coimbra.
O sociólogo não vê grandes diferenças entre vencer no primeiro ou no segundo turno. “No médio e no longo prazo isso, rapidamente, deixa de ser importante”.
Coimbra relembra que quase nenhuma eleição brasileira moderna teve vitória no primeiro turno, a não ser as duas vencidas por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que foram um caso à parte.
“Ambas foram especialíssimas. Foram as eleições mais manipuladas, mais caras, na qual houve uma candidatura que congregou o universo das forças de centro e de direita brasileiras. Não houve dissidência na direita, todo mundo votou no Fernando Henrique. Mas essas condições não se repetem. Portanto, é provável que o padrão de vitória só no segundo turno se repita”, destaca.
“Bolsonaro tem tudo para continuar a cair. Não acho que ele tenha um modo de reverter esse quadro”
Coimbra não vê a possibilidade de Jair Bolsonaro (PL) ter uma “carta na manga”, que consiga reverter o cenário de queda acentuada e contínua de popularidade.
“Bolsonaro tem tudo para continuar a cair. Não acho que ele tenha um modo de reverter esse quadro. Ele decepcionou a grande maioria do eleitorado brasileiro que votou nele no segundo turno em 2018, acreditando que ele poderia ser um sujeito diferente, pois ele tinha suas particularidades, mas era diferente e valia a pena tentar para ver se dava certo. O eleitor resolveu tentar, mas deu errado”, diz.
O sociólogo não acredita que o presidente tenha repertório político para se recuperar. “Não sei o que ele pode fazer agora, faltando meses, que corrija uma imagem extremamente negativa que formou ao longo de anos”.
“Então, sinceramente, não há de ser com um dinheirinho aqui, um dinheirinho ali, que ele vai comprar o voto do eleitor de baixa renda, que tem que ser respeitado. Esse eleitor pensa e decide da mesma forma que o eleitor de classe média, com mais escolaridade. Não vejo carta na manga do Bolsonaro. O que vejo é uma tendência de perda ainda maior de autoridade e de imagem daqui até outubro”, analisa.
“Moro é igualmente nazifascista, também acredita ser uma espécie de predestinado”
Apesar de Bolsonaro se manter na segunda colocação nas pesquisas eleitorais, o presidente do Instituto Vox Populi crê que a situação do presidente pode piorar ainda mais.
“Bolsonaro é tão ruim que ele está caindo e continua a manter essa tendência de queda. O que torna perfeitamente possível que algum candidato que disputa o mesmo eleitor de direita e até de ultradireita com ele acabe se beneficiando dessa perda moral, de imagem de competência, de qualidade de governo”, relata.
Coimbra diz que não sabe de onde Bolsonaro “tira tantas ideias de jerico, como essa de ser contra a vacinação de crianças. É difícil imaginar um sujeito tão ruim e tão mal assessorado, cercado de gente de tão péssima qualidade. Então, isso abre a possibilidade para outra candidatura de direita, que já existe. É a do Sergio Moro (Podemos)”.
O sociólogo não poupa críticas ao ex-juiz, considerado parcial e suspeito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nas ações contra Lula.
“Moro é igualmente nazifascista, também acredita ser uma espécie de predestinado. Ele acha que é um sujeito que tem tudo para ser o salvador do Brasil, mas é um político de última qualidade”, define.
Porém, Coimbra acha possível que, mesmo assim, uma parte do eleitorado de ultradireita de Bolsonaro acabe se transferindo para Moro.
“A diferença entre os dois nas pesquisas está em torno de 10 pontos, um pouco mais, um pouco menos, dependendo da pesquisa. Não é fácil que essa diferença desapareça, mas não é tão difícil: 5% de eleitores que decidam sair de um e passar para outro definem quem vai para o segundo turno, se houver segundo turno contra o Lula. Então, é possível que o Moro passe o Bolsonaro”, observa.
“A presença do Moro na eleição muda o quadro para o eleitor de direita”
Ainda em relação a Moro, Coimbra acha que sua entrada na corrida presidencial enfraqueceu ainda mais as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB).
“A presença do Moro na eleição muda o quadro para o eleitor de direita. Tem gente que acha que o Bolsonaro é um bom presidente, que merece continuar. É cada vez menor a proporção de pessoas que acham isso no Brasil, o que significa dizer que tem uma parcela de eleitores que hoje diz que vota no Bolsonaro, porque não apareceu nada melhor. E não é nada difícil aparecer uma coisa melhor do que Bolsonaro, aliás, é muito fácil aparecer, do ponto de vista do eleitor de direita, conservador”, acrescenta.
Por isso, o sociólogo vê como concreta a possibilidade de o eleitor de direita se dividir entre Bolsonaro e Moro.
“É óbvio que isso reduz, ainda mais, o espaço para candidatos que acham que são de centro, como até o Ciro Gomes, que hoje se coloca como um candidato de centro, assim como o João Doria. Mas ambos, sinceramente, não têm atratividade para o eleitor de direita. Para o eleitor democrático, mais progressista, é Lula e pronto”, afirma.
Coimbra sobre o Webinário Fórum: “Ainda existem muitas perguntas que se repetem a respeito de pesquisa”
Com o objetivo de proporcionar um debate sobre o cenário político em ano de definição, suas inúmeras nuances e como funciona o universo das pesquisas eleitorais, Coimbra participa do primeiro Webinário Fórum.
“Eu acredito que a ideia do webinário, de discutir pesquisas, de trocar ideias a esse respeito, é muito boa. A pesquisa é uma coisa que já está incorporada na nossa cultura política, pois se faz pesquisa há muito tempo no Brasil e em outros países. Porém, ainda existem muitas dúvidas, muitas perguntas que se repetem a respeito do tema”, destaca.
“Acho essa iniciativa da Fórum muito saudável, permite que quem se interessa por isso possa ter uma oportunidade de discutir esses assuntos, de debater, perguntar, criticar as pesquisas. Enfim, é um tema que já está há muito tempo na nossa cultura política, mas ainda há várias coisas pouco claras para muitas pessoas e é sempre bom esclarecer”, acrescenta o sociólogo.
“Estamos indo para uma eleição, vamos ter montanhas de pesquisas e as pessoas precisam estar preparadas para discutir e entender, no que elas podem ajudar. Acho que é uma ideia muito boa e tomara dê certo”, acrescenta.