O ex-presidente Lula (PT) foi às redes sociais, nesta quinta-feira (13), para criticar a forma como Jair Bolsonaro (PL) conduz o combate à pandemia do coronavírus. Segundo o petista, o chefe do Executivo é comparável a Jim Jones, pastor estadunidense responsável por um extermínio em massa nos anos 70.
"Bolsonaro continua tratando o covid com descaso. Só um psicopata como Jim Jones seria capaz de repetir as insanidades de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia", escreveu Lula.
Em junho de 2021, durante a CPI da Pandemia no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) já havia comparado Bolsonaro a Jim Jones. "Nós temos um Jim Jones na presidência da República", havia dito.
Nos últimos dias, Jair Bolsonaro voltou a minimizar a pandemia e a vacinação contra a Covid-19, justamente em um momento de explosão de infecções e internações. Nesta quarta-feira (14), o presidente chegou a afirmar que a variante ômicron, mais contagiosa, "é bem-vinda" no Brasil, o que motivou reação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Nenhum vírus que mata pessoas é bem-vindo, especialmente quando há indivíduos sofrendo”, disse o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, durante coletiva de imprensa.
Quem foi Jim Jones
Citado por Lula em comparação com Bolsonaro, James Warren Jones, conhecido mundialmente por Jim Jones, foi um pregador religioso estadunidense, ativista, fundador e líder da seita Templo dos Povos. Ele ficou famoso, em novembro de 1978, por ter induzido ao suicídio em massa por envenenamento 918 dos seus membros em Jonestown, Guiana. Ele foi acusado também pelo assassinato do congressista Leo Ryan e de quatro mortes adicionais em Georgetown, capital guianense.
Entre as vítimas, estavam quase 300 crianças que foram mortas por ingestão de cianeto. Jones morreu de um ferimento de bala na cabeça; suspeita-se que sua morte foi um suicídio.
Embora algumas pessoas tenham sido mortas a tiros e facadas, a grande maioria pereceu ao beber, sob as ordens do pastor, veneno misturado a um ponche de frutas.
Jones nasceu em Indiana e começou o Templo do Povo na década de 1950. Ele mudou a sua seita para a Califórnia em meados dos anos 1960 e ganhou notoriedade com o movimento da sede da igreja em São Francisco, no início de 1970.
De acordo com reportagem da BBC, republicada por ocasião dos 40 anos da tragédia, em 2018, apesar de promover curas “milagrosas” fraudulentas, Jones era adepto de uma espécie de socialismo cristão, com ideais igualitários, como impor vestuário modesto para os frequentadores de cultos, distribuição de comida gratuita e mesmo o fornecimento de carvão para famílias mais pobres no inverno, o que atraiu um imenso contingente de fiéis de perfis raciais mais diversos.
Por trás disso tudo, no entanto, ele tinha um projeto de mortandade. Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de integrantes da comuna, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma delegação de 18 pessoas para visitar Jonestown.
A visita ocorreu em 17 de novembro. No dia seguinte, Ryan e mais quatro pessoas morreram a tiros em uma pista de pouso próxima ao assentamento. Poucas horas depois ocorreu o suicídio coletivo, considerado o maior da história.
Os relatos de sobreviventes falam em um “estado de transe coletivo”, mas uma sinistra gravação dos procedimentos, que inclui discursos de Jones, contém gritos de agonia das pessoas envenenadas. Muitos dos que tentaram fugir foram mortos.
Quando autoridades da Guiana chegaram a Jonestown, o pastor foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em uma posição que sugeriu suicídio. Dos habitantes que estavam em Jonestown naquele dia, apenas 35 sobreviveram.
Quatro décadas depois da tragédia, Jonestown ainda provoca polêmica na Guiana. O terreno da comuna foi “reconquistado” pela floresta, mas há no país quem queira ver o local explorado como ponto turístico, assim como acontece nos antigos campos de concentração nazistas na Europa, por exemplo. Mas o governo do país tem se recusado a considerar a possibilidade.