O presidente Jair Bolsonaro enviou nesta quarta-feira (8) uma mensagem de áudio a representantes do movimento golpista que o apoia pedindo para que os caminhoneiros suspendam as paralisações de vias e estradas.
Defendendo pautas golpistas como a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), esses caminhoneiros, que na verdade seriam integrantes do agronegócio, prometem “parar” o Brasil até que sua demanda antidemocrática seja atendida.
Os bloqueios, que têm sido feitos com barricadas, queima de pneus, com os próprios veículos e, inclusive, com intimidações contra aqueles que não aderiram ao movimento golpista, foram registrados em mais de 10 estados.
"Fala para os caminhoneiros aí que [eles] são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade", diz Bolsonaro no áudio.
"Deixa com a gente em Brasília aqui agora. Não é fácil negociar, conversar por aqui com outras autoridades, não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui, vamos fazer a nossa parte aqui, tá ok?", prossegue o presidente, um dia depois de afirmar que não respeitaria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e incitar uma ruptura institucional.
Parlamentares entram com ofício contra bloqueios
O deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES), a deputada federal Tabata Amaral (sem partido-SP) e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) encaminharam ao Ministério da Justiça, nesta quarta-feira (8), um ofício em que cobram medidas contra os bloqueios de vias e estradas que vêm sendo promovidos pro caminhoneiros bolsonaristas.
“As consequências do movimento são graves para o país e empresas já temem a falta de combustível nas próximas horas. A população não aguenta mais”, disse Felipe Rigoni ao anunciar o ofício encaminhado ao Ministério da Justiça.
“A Polícia Rodoviária Federal é vinculado ao MJ e precisa liberar rapidamente as estradas afetadas. Nosso povo não aguenta mais tanto caos!”, afirmou, por sua vez, Tabata Amaral.
Bloqueios e intimidação
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro estão desde o início da tarde desta quarta-feira (8) tentando intimidar caminhoneiros para pressioná-los a realizar uma paralisação. Vídeos mostram bolsonaristas jogando pedras em veículos para forçar locaute.
As cenas mais sérias foram vistas em Santa Catarina. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o estado é o que mais possui bloqueio de vias.
Segundo o Ministério da Infraestrutura, há ações de interrupções do fluxo rodoviário em ao menos 8 estados. Estes seriam Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná, Maranhão e Rio Grande do Sul.
A Fórum teve acesso a um levantamento do gabinete do deputado Alencar Braga (PT-SP) feito a partir de um mapa que circula entre caminhoneiros bolsonaristas com todos os pontos de bloqueio. Além dos estados já citados, há paradas em Amazonas, Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe. Dessa maneira, seriam 19 estados.
A PRF do Tocantins disse aos jornalistas Tácio Lorran e Galtiery Rodrigues, do Metrópoles, que o movimento de bloqueio não é feito só por caminhoneiros.
O deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), presidente da Frente Parlamentar de Caminhoneiros e Celetistas, cobrou da Direção da Polícia Rodoviária Federal a proteção de motoristas diante das ações de bolsonaristas. No ofício, obtido pelo colunista Chico Alves, do Uol, Crispim pede para a PRF “cumprir e fazer cumprir a legislação brasileira, garantir a liberdade dos caminhoneiros, conter e evitar intercorrências do tipo e sua evolução”.
Associação dos transportes reage a bloqueios
A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) divulgou nota na noite desta quarta repudiando as ações. “Trata-se de movimento de natureza política e dissociado até mesmo das bandeiras e reivindicações da própria categoria, tanto que não tem o apoio da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos”, afirma a entidade.
“Preocupa a NTC o bloqueio nas rodovias o que poderá causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, com graves consequências para o abastecimento de estabelecimentos de produção e comércio, atingindo diretamente o consumidor final, de produtos de todas as naturezas inclusive os de primeira necessidade da população como alimentos, medicamentos, combustíveis etc”, diz ainda.
A NTC cobra o Governo Federal e governos estaduais a repelirem esses bloqueios. “A NTC deixa claro que não apoia esse movimento, repudiando-o, orientando as empresas de transporte a seguirem em sua atividade e orientando os seus motoristas para em caso de bloqueio ao trânsito dos seus veículos acionarem imediatamente a autoridade policial solicitando sua liberação”, finaliza a nota.