Nem à ala ideológica nem o grupo mais moderado do governo, do qual o Itamaraty faz parte, gostaram do discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta terça-feira (21), na 76ª Assembleia Geral da ONU.
A revelação foi feita por ministros e auxiliares do presidente que monitoraram as reações da base aliada ao discurso à coluna de Igor Gadellha, no Metrópoles.
A base radical do presidente considerou que Bolsonaro não mostrou empolgação com o discurso, que foi “muito moderado”, segundo eles. O ex-chanceler Ernesto Araújo, por exemplo, classificou a fala do ex-chefe como “frio e sem paixão”.
Por outro lado, integrantes do Itamaraty e ministros mais moderados se incomodaram com o trecho em que Bolsonaro defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19.
Base coesa
Já o analista de redes Pedro Barciela considera que Bolsonaro acertou ao sair da defensiva em Nova York. De acordo com ele, o presidente “sabe que um debate sobre o discurso na ONU tem um engajamento restrito”, afirma. “Muito mais restrito do que debates sobre os escândalos recentes de seu governo ou a deterioração da economia brasileira. Por isso ele foi para os EUA tentando sair da defensiva. E conseguiu.”
“Debater a ‘pizza em NY’ é muito melhor para o bolsonarismo do que cobaias humanas da Prevent Senior. Ele sabe que debater se ele ‘vacinou ou não’ é melhor do que corrupção na compra das vacinas”, comenta.
Para ele, “se Bolsonaro não amplia sua base com esse discurso, ele sabe que ao menos:
a-) mantém sua base coesa e;
b-) muda o debate para uma pauta que dificilmente extrapola a polarização nas redes sociais”.
“No grafo, o antibolsonarismo reuniu pouco mais de 78% dos atores, enquanto o bolsonarismo reuniu quase 22% dos atores. Aqui vale destacar: me parece que o objetivo do bolsonarismo sempre foi MUDAR a pauta e não dominar o debate”, conclui.