O autor intelectual do tal manifesto por “pacificação” que está sendo assinado por toda a elite graúda brasileira, despertando a fúria de Jair Bolsonaro, é um velho conhecido do mundo político de Brasília: Paulo Skaf, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e que até outro dia era aliado de primeira hora do atual mandatário ultraconservador.
Ainda que não cite o nome do presidente da República e dos chefes do Legislativo e do Judiciário, o documento, que disfarçadamente clama por “harmonia entre os poderes do Estado”, é na verdade um recado direto e claro a Bolsonaro, o estridente e radical chefe do Executivo que cria uma crise grave por dia com autoridades de todas as esferas.
Ao que parece, o inquilino do Planalto entendeu o recado e estaria irado com a iniciativa, que recebeu adesão até da Federação Nacional dos Bancos (Febraban), o que o levou a, num acesso de personalismo e autoritarismo, determinar a saída da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil da poderosa e tradicional instituição que abriga os nomes mais importantes do cenário financeiro nacional.
Mas afinal, Skaf não era aliado de Jair Bolsonaro? Na verdade, Skaf lidera um nada insuspeita organização formada por barões industriais do país, que já esteve vinculada diretamente a processos de desestabilização e de golpes no Brasil. Para ser breve, não esqueçamos o patrocínio financeiro histórico que a Fiesp concedeu aos militares que derrubaram João Goulart em 1964, dando início a uma ditadura que se estenderia por 21 anos, tampouco o engajamento público da entidade no processo de derrubar da presidenta Dilma Rousseff, eleita democraticamente e removida do cargo num processo de impeachment artificial e golpista.
Paulo Skaf já esteve ao lado dos presidentes petistas e de Michel Temer. Quando Jair Bolsonaro chegou à Presidência, tratou de se aproximar dele e da agenda ultraneoliberal do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que contava a todos sobre sua agenda que devastaria direitos sociais e trabalhistas.
Ao que tudo indica, com quase 75% do mandato transcorrido no Planalto, Skaf se deu conta de que a maneira destrambelhada e repulsiva de Bolsonaro não dará trégua e sua destruição da economia nacional não cessará, trazendo ainda mais prejuízos à elite empresarial, industrial e do agronegócio.
José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast e rival de Skaf na Fiesp, em entrevista ao jornal O Globo, disse que o homem que chefia o clube das maiores indústrias do Estado mais rico do país sempre esteve equivocado em dar apoio a Bolsonaro e que isso “não é de hoje”.
“Skaf foi pró-Lula, pró-Dilma, pró-Temer e pró-Bolsonaro. Agora está querendo se desvencilhar do Bolsonaro e quer articular essa concertação. É um oportunismo barato”, disparou Roriz.
O manifesto batizado de “Praça dos Três Poderes”, que dissimula no nome para não atacar diretamente o atual presidente da República (sem êxito, uma vez que Bolsonaro já vestiu a carapuça), recebeu adesão ainda de mais de 200 grupos empresariais do país, entre eles a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Instituto Brasileiro da Árvore (Ibá, da indústria de celulose e papel), Abinee (indústria elétrica e eletrônica), Fenabrave (distribuição de veículos), Fecomércio, Alshop (lojistas de Shopping) e o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo).