Sócia de fábrica produtora de ivermectina sacou R$ 937 mil em dinheiro

Coaf aponta para tentativa de burla à identificação das pessoas que receberiam os valores; venda da empresa aumentou 29 vezes com a comercialização de medicamento sem eficácia contra a Covid

Ivermectina fabricada pela Vitamedic - Foto: Reprodução
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A irmã e sócia do empresário que faturou 29 vezes mais com a venda de ivermectina durante a pandemia, a empresária IIdelita Alves Jorge Warde fez 274 saques em espécie de abril de 2019 até abril deste ano.

Levantamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta para uma retirada de dinheiro vivo a cada três dias e também aponta, nas operações de IIdelita, uma tentativa de "burla" à identificação das pessoas que receberiam os valores.

A empresária é irmã de José Alves Filho, dono do laboratório Vitamedic Indústria Farmacêutica. Além dessa empresa, IIdelita é sócia em outras três.

De acordo com a investigação da Polícia Federal a empresa, com sede em Anápolis (GO), pertencia a um “laranja” do contraventor Carlinhos Cachoeira.

Com a venda da ivermectina, medicamento sem eficácia contra a Covid-19, o faturamento da empresa aumentou 29 vezes.

Documento do Coaf encaminhado à comissão dá conta dos saques realizados por IIdelita: entre abril e julho de 2019, foram 235 saques, alcançando o valor de R$ 791 mil.

De julho até abril deste ano, foram outras 39 retiradas, somando cerca de R$ 145 mil.

O Coaf identificou saques com valores abaixo de R$ 10 mil o que, para a instituição revelam "tentativa de burlar a identificação dos intervenientes".

Para o Coaf, os saques em espécie são os principais "sinais amarelos" para serem analisados para que se investigue se houve alguma tentativa de esconder os reais destinatários dos valores.

Aos agentes do Coaf, IIdelita afirmou que usava o dinheiro sacado era para pagar funcionários.

"Alegou que os saques em espécie se destinam aos pagamentos dos funcionários de sua residência. Diante das informações supracitadas, não podemos desconsiderar a movimentação havida em conta incompatível com a renda declarada, realização de saques em espécie com características de burla, dificultando a indicação quanto a destinação dos recursos", diz o relatório do Coaf.

Além disso, dados da instituição entregue à CPI revelam que a Vitamedic, Alves Filho e cincos empresas ligadas a ele, como a GJA Indústrias, repassaram R$ 9,9 milhões a Idelita. Foram R$ 3 milhões de abril de 2019 a julho do ano passado, e outros R$ 6,9 milhões até abril deste ano.

Fabricante de ivermectina bancou manifesto pelo “tratamento precoce”

Em depoimento à CPI do Genocídio nesta quarta-feira (11), o diretor-executivo da empresa farmacêutica Vitamedic, Jailton Barbosa, confirmou que a empresa, produtora da Ivermectina, bancou a publicação em jornais de um manifesto de médicos bolsonaristas defendendo o tratamento precoce da Covid-19, sem comprovação científica.

“A Vitamedic foi solicitada a dar apoio a Associação Médicos pela Vida no patrocínio de um documento técnico médico e ela o fez”, disse ao ser indagado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), então indagou se o diretor farmacêutico “considera isso ético?”

“A empresa ia lucrar com isso e não tinha nenhum estudo técnico com isso”, disse Randolfe.

“Senador, antes mesmo da publicação deste manifesto, que aconteceu em 16 de fevereiro, a empresa já tinha registrado uma forte demanda do mercado, independente da opinião dos médicos e da publicação desse manifesto”, alegou Barbosa.

“Isso o senhor está informando sobre demanda de mercado. A gente está falando da vida das pessoas. Tem algum estudo que mostrasse a eficácia desse medicamento contra a Covid?”, insistiu Randolfe.

Ao responder, o diretor da Vitamedic tergiversou e não citou sequer uma pesquisa sobre o uso do medicamento contra o coronavírus. “Ao redor do mundo tem uma quantidade muito grande de documentos e tem uma associação médica que reúne uma quantidade grande de profissionais de saúde. E nós não entramos no mérito do conteúdo da informação”, disse.

Ex-delegado e professor de Direito Penal, Fabiano Contarato (Rede-ES) acusou a empresa de cometer estelionato.

“Isso em Direito penal chama-se estelionato. Artigo 171: obter vantagem indevida induzindo ou mantendo alguém em erro mediante artifício ou ardil ou qualquer outro meio. Pena: reclusão de 1 a 5 anos e multa. Isso fere a ética e o artigo 171 porque está sendo violada a vida humana”, disse Contarato.

“E o custo foi pago em vidas”, emendou Calheiros.

Com informações do UOL.