Tenente Coronel da Polícia Militar de São Paulo, na terceira geração da família entre as forças policiais, Paulo Ribeiro gravou um vídeo, divulgado nesta quarta-feira (25) nas redes sociais, em que faz um contraponto à tentativa de Jair Bolsonaro (Sem partido) de incitar insubordinação do baixo clero das corporações estaduais convocando para o ato golpista de 7 de Setembro.
Para o militar, que disputou as eleições municipais de 2020 como vice-prefeito em Taubaté, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo - região onde Bolsonaro viveu boa parte de sua vida -, o presidente busca "seduzir com discurso raso de onipotência" a baixa patente das forças policiais. E, segundo ele, é ai onde mora o perigo.
"Bolsonaro não tem argumentos nem liderança, mas busca seduzir os incautos com um discurso raso de onipotência a quem muitas vezes não tem nem o que comer. Aí repousa o grande perigo dessa aventura, 'o guarda da esquina'", disse, em entrevista à Fórum.
Ribeiro, que atualmente é filiado ao PSOL, confirmou que há movimentos de sublevação dentro da PM paulista incitados por apoiadores de Bolsonaro que, segundo ele, devem ser reprimido "energicamente".
"O que mais me preocupa é o pensamento anacrônico, carcomido pelo tempo, de que armamento é solução pra tudo. Isso é uma falácia e os simpatizantes do atual presidente seguem essa linha, se distanciando cada vez mais do mister constitucional das Polícias Militares. Isso tem que ser reprimido energicamente", afirma.
Leia abaixo a entrevista do tenente coronel Paulo Ribeiro à Fórum e, logo abaixo, o vídeo divulgado nas redes sociais.
Fórum: O que o motivou a fazer o vídeo pedindo aos PMs que não entrem nessa aventura da "ruptura institucional" - que já foi citada até por uma entidade nacional dos policiais?
Coronel Paulo Ribeiro: Há 80 anos a Polícia Militar está na minha família. Década de 40 meu pai, 80 eu e recentemente meu filho como Bombeiro. Uma instituição legalista, com o objetivo de servir sobretudo à população mais desassistida não pode continuar sendo usada irresponsavelmente como propósito político de aves de rapina. A minha decisão de gravar este vídeo foi exatamente fazer o contraponto a verdadeiros "boletins de guerra" que estão sendo disseminados maldosamente nas redes conclamando policiais ativos e veteranos para contestação do livre funcionamento das instituições mantenedoras da democracia no país.
Fórum: Há dentro da PM influência de grupos bolsonaristas? Como eles agem?
Coronel Paulo Ribeiro: A Polícia Militar é composta de quase 90 mil Combatentes. São 90 mil pensamentos. Porém, isso tudo está contido numa instituição de Estado com dignidade constitucional e apolítica. Há simpatizantes de todos os matizes nesse universo. Entretanto, o que mais me preocupa é o pensamento anacrônico, carcomido pelo tempo, de que armamento é solução pra tudo. Isso é uma falácia e os simpatizantes do atual presidente seguem essa linha, se distanciando cada vez mais do mister constitucional das Polícias Militares. Isso tem que ser reprimido energicamente.
Fórum: Como vê a tentativa de Bolsonaro de usar as polícias militares para gerar um caos ainda maior no país?
Coronel Paulo Ribeiro: Acompanho Bolsonaro desde 1986. Ele Capitão e eu ainda na Escola de Sargentos da PM. Naquele ano ele se insurge contra a disciplina e, daí, só ladeira abaixo. Essa forma de proceder (estabelecer a quebra da hierarquia e disciplina) nós não podemos admitir e precisamos erguer a voz. Hoje sou eu, mas outros virão e se levantarão contra as investidas de alguém que nunca moveu uma palha pelos Policiais Militares, a não ser "fazer arminha". Bolsonaro não tem argumentos nem liderança, mas busca seduzir os incautos com um discurso raso de onipotência a quem muitas vezes não tem nem o que comer. Aí repousa o grande perigo dessa aventura, "o guarda da esquina".