O chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 da Polícia Militar de São Paulo, coronel Aleksander Lacerda, afastado do cargo pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por insuflar a participação de “amigos” nas manifestações de 7 de Setembro, não é um caso isolado.
Vários outros PMs da ativa e da reserva tem feito convocações para o ato do dia da Independência.
De acordo com levantamento do Estadão, PMs de diferentes estados e de várias patentes tem sido reforçadas ainda por deputados PMs. Há pessoal da ativa e da reserva incentivando manifestações em São Paulo, Rio, Santa Catarina, Espírito Santo, Ceará e Paraíba.
O medo de ruptura ligada às PMS faz parte do cenário traçado por oficiais-generais e ex-ministros da Defesa como Raul Jungmann.
Em reunião com a participação de 25 governadores preocupação com os atos foi compartilhada. Na conversa foi destacado que o que tem marcado a organização dos atos é o caráter de apoio a uma ruptura institucional, com ameaças de invasão do Supremo Tribunal Federal e do Congresso.
O repórter Vinicius Valfré, do Estadão, questionou a principal organização dos policiais, a Associação Nacional de Entidades Representativas de Policiais Militares e Bombeiros Militares, se tem orientado a participação nos atos. A instituição declarou que “ainda não deliberou”. Haverá uma reunião na próxima quinta-feira, e o tema poderá ser tratado. Ao contrário de integrantes da ativa, homens da reserva podem participar de manifestações.
O incentivo à manifestação em favor do presidente por parte de militares da ativa é visto como pontual na cúpula das PMs. “Dentro de um cenário nacional, há uma sinalização para a generalização desses posicionamentos”, disse o coronel Euller Chaves, presidente do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das PMs.
“Risco Pazuello”
A Coluna do Estadão, por sua vez, ouviu presidentes de vários partidos que foram unânimes em afirmar que a postura adotada por Doria de afastar imediatamente o coronel Aleksander foi correta.
Segundo eles, o campo democrático precisa responder à altura às ameaças de ruptura na ordem institucional, punindo e expondo casos em que limites foram extrapolados.
Eles alertam para o “risco Pazuello”: o temor de que militares da ativa em corporações de polícia e Forças Armadas passem a se manifestar partidariamente, uma transgressão de disciplina. O general, ex-ministro da Saúde, subiu em carro de som com Jair Bolsonaro. E ficou por isso mesmo.
Para os dirigentes, a razão da “contaminação” das corporações tem nome: Jair Bolsonaro.
Carlos Lupi, presidente do PDT, afirmou: “É o papel a que se presta o presidente. Essa direita que estava no armário será um grupo de inocentes úteis se forem nessa linha (de rasgar a Constituição)”, diz Carlos Lupi, presidente do PDT.
Já para Luciano Bivar (PSL), partidos devem estar vigilantes quanto à cooptação das polícias. “Executivas nacionais têm a obrigação de externar o alarmismo dessa onda. A preocupação é grande.”
Carlos Siqueira (PSB) considera “preocupante quando líderes de instituições que a rigor deveriam servir ao Estado se transformam em militantes”.
Para Eduardo Ribeiro (Novo), no episódio do Pazuello (que subiu em um caminhão ao lado do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), em uma manifestação, o Exército optou por não conferir nenhuma punição. Espero que a Corregedoria da PM/SP seja mais rigorosa”, diz Ribeiro.
Para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, “o caso de Pazuello acabou repercutindo. Não podemos colocar em risco as conquistas da Constituição”, diz Gleisi.
Juliano Medeiros, do PSOL, lembra que “corporações não podem ter envolvimento político-partidário. É curioso, porque sempre que esses trabalhadores reivindicam melhores salários ou condições de trabalho, esse aspecto é levantado. Mas quando vemos movimentos de extrema-direita infiltrados nas forças de segurança, muitos consideram normal”.