O senador Ciro Nogueira (PP-PI), escolhido para ser o novo ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro (Sem Partido), foi autuado pela Receita Federal que cobra dele impostos e multas que somam R$ 17 milhões. Os autos de infração que apontam os débitos foram lavrados nos anos de 2017 e 2018. Um deles se refere ao suposto pagamento de propina de R$ 6,4 milhões pelas empresas JBS e UTC, sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com os auditores fiscais, houve omissão dos rendimentos. Eles ainda cobram o recolhimento dos impostos correspondentes aos cofres públicos. O outro caso está relacionado a transações financeiras envolvendo diversas empresas do senador que não foram devidamente declaradas, segundo o Fisco.
Os auditores mencionaram ainda diversas movimentações financeiras em dinheiro vivo feitas pelo político e pessoas próximas na época. No início de 2019, ele foi alvo de uma operação da PF dentro dessa investigação, batizada de Compensação. Na ocasião, foram encontrados em endereço dele em Teresina US$ 33,5 mil (equivalente a R$ 173 mil em valores atuais). A investigação criminal ainda não foi encerrada.
O procedimento da Receita afirma que o político foi questionado sobre a movimentação das quantias e que "abdicou de apresentar" explicações.
O senador, que não quis se manifestar, contesta as multas em procedimentos, ainda não julgados, apresentados ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Alvo de investigações da Lava-Jato sobre o suposto recebimento de propina, Nogueira sempre negou ter cometido qualquer crime.
Os auditores mencionaram o pagamento em outubro de 2014 de R$ 445 mil em custas do inventário do pai do político, que havia morrido no ano anterior. A transação, feita por um irmão do senador, Raimundo, foi confirmada pela família em depoimentos.
Também foram listados depósitos em dinheiro vivo em sua conta que somaram quase R$ 60 mil ao longo de 2014 e pagamentos de despesas pessoais feitas dessa maneira. Há menções a pagamentos efetuados por ele de R$ 20 mil a uma loja de veículos importados, em São Paulo, e outros R$ 2.460 em uma concessionária, no DF.
"Não é razoável acreditar que indivíduos esclarecidos e sem a necessidade de esconder a real origem de suas rendas optariam por transitar com valores significativos em espécie, abdicando da segurança e da celeridade de transações bancárias", diz o documento.
“Restou constatada a existência de pagamentos de milhões de reais devidamente identificados nos extratos bancários da empresa que não foram por ela contabilizados, evidências claras da existência de uma contabilidade paralela, de ‘caixa 2’”, diz ainda o documento da Receita.