A pressão pela abertura de um dos mais de 120 pedidos de impeachment protocolados na Câmara contra o presidente Jair Bolsonaro ganhou novo impulso.
O vice-presidente da Casa, Marcelo Ramos (PL-AM), após ser atacado por Bolsonaro, subiu o tom nas críticas ao mandatário e pediu a Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, acesso a todas as peças de impeachment.
Ele ainda afirmou que já enxerga crimes consistentes do titular do Planalto.
Mesmo sem retorno de Lira sobre o acesso às peças, Ramos recebeu da oposição uma cópia do "superpedido" de impeachment apresentado em junho.
"São 21 imputações de crime de responsabilidade e algumas delas, numa primeira leitura, parecem bem consistentes”, tuitou o parlamentar nesta terça-feira (20).
À Folha de S. Paulo, Ramos disse ainda que estuda aval para abrir um dos pedidos de impeachment contra Bolsonaro se assumir a presidência da Câmara como interino.
"Tem duas questões importantes. A primeira questão é de natureza estritamente jurídica: se existem os fundamentos que caracterizam crime de responsabilidade. Essa é uma questão", disse.
"A segunda questão tem natureza jurídica e política, que é se cabe no exercício provisório da presidência da Câmara acatar ou não um impeachment. Estou analisando as duas coisas", completou.
"Saia das palavras"
À Fórum, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) reagiu ao posicionamento de Marcelo Ramos sobre o impeachment.
"Espero que Ramos saia das palavras e vá aos atos. Que receba o impeachment quando estiver no exercício da presidência ou deixe de passar pano e cobre com afinco do seu aliado Lira, que está sendo cúmplice do genocídio, para que o faça", cobrou o psolista.
Braga ainda lembrou do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que durante toda a sua gestão frente à Mesa Diretora se recusou a dar seguimento a qualquer pedido de impeachment contra Bolsonaro.
"Espero [que o Marcelo Ramos] que não se iguale a Maia no papel de bravateiro sem ação concreta contra Bolsonaro", pontuou.
"Elemento importante"
Também em conversa com a Fórum, o líder da bancada do PT na Câmara, deputado Elvino Bohn Gass (RS), disse considerar o posicionamento de Ramos pró-impeachment como "importante".
O petista avalia que a postura do vice-presidente da Câmara pode "contagiar" outras lideranças da Casa.
"Os crimes [de Bolsonaro] são tantos. Crime é o que não falta. É muito positiva a posição do Marcelo Ramos e acredito que ela vai contagiar outras lideranças a se posicionarem. É muito grave o que está acontecendo no Brasil. Estamos diante de um governo genocida e corrupto. Esse posicionamento é bem-vindo e espero que contagie outras lideranças", declarou.
Para Bohn Gass, o apoio de Ramos ao impeachment não fará com que Arthur Lira, automaticamente, resolva abrir um dos pedidos, mas considera que se trata de "um processo" e que essa postura do vice-presidente "é um elemento importante".
"Ele [Marcelo Ramos] sempre manteve uma postura muito crítica, bastante equilibrada, e isso [a sinalização de apoio ao impeachment] foi um sinal que mostra exatamente que o presidente não tem nenhuma condição de conviver com a democracia", afirmou o líder do PT.
Fundão
Marcelo Ramos, que conduziu a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), virou oposição e passou a sinalizar apoio ao impeachment ao ser acusado por Bolsonaro de ter incluído o destaque para turbinar o chamado Fundão.
Ramos, no entanto, diz que a manobra partiu do próprio presidente, que incluiu o valor de R$ 5,7 bilhões em um “acordão” com partidos aliados para dobrar o valor do fundo dos atuais R$ 2 bi para R$ 4 bi.
“Atenção! Depois de toda a fanfarronice, o presidente Bolsonaro está armando um acordão pra dobrar o valor do fundo e passar pra 4 bilhões! A verdade sempre aparece”, tuitou Ramos.