Covaxin, a Fiat Elba de Bolsonaro

Em 1992, Collor caiu por conta de um carro. Bolsonaro pode ser derrubado por uma vacina. Entenda aqui porque

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Em 1992, a compra de um carro modelo Fiat Elba Weekend 91 pelo então presidente Fernando Collor de Mello, que teria sido adquirida com dinheiro proveniente de contas fantasma de PC Farias, tesoureiro da sua campanha presidencial de 1989, foi fatal para a sua queda.

Quase 30 anos depois, o Jornal Nacional, da TV Globo, dá destaque às investigações da CPI do Genocídio sobre a compra da vacina indiana Covaxin pelo governo Jair Bolsonaro por valor 1000% mais caro do que seis meses antes era oferecido pelo próprio fabricante. O Planalto teria pressionado servidores para acelerar o negócio.

“A CPI da Covid investiga uma decisão inusitada do governo Bolsonaro: retardar a compra da vacina Pfizer alegando preços muito altos, mas comprar o imunizante indiano mais caro e antes da aprovação da Anvisa”, disseram os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos na abertura do telejornal.

Entre os dois escândalos há poucas semelhanças. Eles têm sido comparados nas redes por uma única razão. No meio de tantas denúncias e suspeitas de corrupção, o caso da Covaxin – assim como o da Elba para Collor – pode vir a ser a bala de prata de Bolsonaro. A ponta solta que faltava para o seu impeachment.

Vale lembrar que, ironicamente, o próprio ministro da Economia Paulo Guedes fez piadas com o caso do Collor, durante uma palestra no Rio de Janeiro, em 2019: "O cara cair por um Fiat Elba é dose. Vendo o que foi feito depois, quebraram a Petrobras, a Eletrobras, a Caixa, um Fiat Elba vou te contar. É uma vergonha alguém sofrer um impeachment por um Fiat Elba", afirmou Guedes, arrancando risadas da plateia durante seminário sobre o risco Brasil, na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Entenda o caso:

Telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado, ao qual o Estadão teve acesso, informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose).

Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia "custaria menos do que uma garrafa de água". Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) — a mais cara das seis vacinas compradas até agora.

MP

O contrato do governo Bolsonaro para a compra da Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, está no centro das investigações do Ministério Público.

Os indícios de crimes foram levantados pela procuradora da República Luciana Loureiro, que cita o alto preço pago pelo governo na compra do imunizante, que foi intermediado pela empresa Precisa Medicamentos.

Apesar de recusar sistematicamente o lote de vacinas oferecido pela Pfizer em razão do valor de 10 dólares a dose, considerado alto pelo governo, Bolsonaro deu aval para a compra do imunizante indiano pagando 15 dólares a dose – um valor 1.000% maior que o anunciado pelo fabricante.

Em depoimento ao Ministério Público, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda relatou ter “sofrido pressão atípica” de superiores para garantir a importação da vacina Covaxin.

A compra do imunizante ainda contou com lobby do deputado Ricardo Barros (PP-PR), através de uma emenda que ele conseguiu aprovar em abril.

A emenda é uma nova redação da Medida Provisória 1.026/21, que prevê autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária “para a importação e distribuição de quaisquer vacinas” sem registro que tivessem sido aprovadas por autoridades sanitárias de outros países.

Francisco Maximiano, empresário da Precisa Medicamentos, informou à CPI do Genocídio nesta terça-feira (22) que não poderá comparecer ao depoimento previsto para quarta-feira (23) em razão de uma quarentena determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).