O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) acionou o Ministério da Defesa e protocolou junto ao Ministério Público Militar (MPM), nesta quinta-feira (18), uma representação contra o comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Tenente-Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior. Na ação, o parlamentar aponta que o comandante comete transgressão disciplinar ao fazer militância política nas redes sociais.
O regulamento das Forças Armadas proíbe que militares da ativa, como é o caso de Baptista Junior, se manifestem publicamente sobre assuntos político-partidários. Essa, inclusive, foi a premissa para o procedimento de apuração aberto contra o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que participou de um ato político com Jair Bolsonaro em maio, no Rio de Janeiro. O comando do Exército, no entanto, decidiu arquivar o processo e ainda impôs sigilo de 100 anos às informações do procedimento.
O Tenente-Brigadeiro Baptista Júnior assumiu o comando da FAB em março deste ano, após os comandantes das três Forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) pedirem demissão coletiva por conta da influência política de Jair Bolsonaro entre os militares. Ao se tornar o novo comandante da FAB, veio à tona que Baptista Júnior demonstrava adesão ao bolsonarismo em suas redes sociais. Entre as “curtidas” do tenente-brigadeiro estão tuítes de figuras ligadas ao titular do Palácio do Planalto como a própria deputada Bia Kicis, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP), o ex-ministro Abraham Weintraub, o secretário de Cultura, Mário Frias, o ex-deputado Roberto Jefferson, o colunista Rodrigo Constantino, o colunista Augusto Nunes, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, e o ex-ministro Sergio Moro.
Nas mensagens, muitas declarações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, ataques contra a esquerda, contra a imprensa, críticas à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de anular as condenações do ex-presidente Lula e ao uso do termo “genocida” para se referir a Bolsonaro.
Como se não bastasse, no dia 11 de junho, o comandante se reuniu - fora de sua agenda oficial - com a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), que postou uma foto dos dois juntos e afirmou que o militar teria votado nela na última eleição e expressado seu apoio. Baptista Júnior ainda foi além e curtiu um comentário de um internauta na postagem dizendo que “a FAB representando o que há de melhor na política!".
Tanto as "curtidas" em postagens pró-Bolsonaro quanto a demonstração de apoio à bolsonarista foram citadas por Ivan Valente na representação encaminhada ao MPM. "O COMANDANTE DA AERONÁUTICA utiliza-se do cargo, suas insígnias e uniforme para figurar nas redes sociais, propagandeando posições políticas de extrema direita e manifestar apoio político a pessoas que disseminam notícias falsas e apoiam abertamente atos antidemocráticos que, entre suas bandeiras, defendem o fechamento do Supremo Tribunal Federal", escreve o psolista.
"É indiscutível que o COMANDANTE DA AERONÁUTICA BRIGADEIRO BAPTISTA JÚNIOR feriu o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército ao utilizar suas redes sociais em função de militância política. Conduta esta que compromete significativamente a imagem das forças armadas, em especial ao COMANDO DA AERONÁUTICA", completa o parlamentar, que pede que o Ministério Público Militar investigue a conduta do comandante.
Na ocasião do encontro de Baptista Júnior com Bia Kicis, quando a deputada sinalizou demonstração de apoio político do militar, Fórum entrou em contato com a assessoria de imprensa da FAB para que o órgão se posicionasse sobre o assunto e, até o momento, não obteve retorno.