Com a mentalidade formada nos colégios militares durante a Ditadura - ele tinha 16 anos quando entrou na escola de cadetes, dias depois do golpe de 64 -, o general-de-Exército Luis Carlos Gomes Mattos, que tomou posse em março como presidente do Superior Tribunal Militar (STM), mostrou todo seu servilismo ao adular Jair Bolsonaro em entrevista à Veja nesta quinta-feira (17).
"O presidente Bolsonaro é um democrata, fala com o palavreado do povo, mas nada disso com a intenção de quebrar as estruturas, destruir as instituições, dar um golpe", respondeu ao ser indagado sobre a "ameaça de retrocesso democrático" no país.
A partir da pergunta, Mattos deu início a uma tentativa de mitificar Bolsonaro, como se fosse um dos apoiadores classificados como gado do presidente.
Em concordância com as ideias do presidente, o general diz que a convicção de que Bolsonaro é um democrata vem das quase três décadas que o presidente passou no baixo clero do parlamento e reforça teses estapafúrdias do mandatário até mesmo em relação à pandemia.
"Que culpa o presidente tem da Covid? Como é que nós vamos culpá-lo? Ele tomou todas as providências cabíveis. Veja bem, às vezes o presidente toma uma providência e lá no final da fila o camarada não faz aquilo que era para ser feito. Se eu lhe dou um dinheiro para você fazer X, e você vai e faz Y, como eu posso ser responsabilizado por X?", afirmou, repetindo a estratégia de Bolsonaro de culpar governadores e prefeitos.
Na entrevista, Mattos faz ainda uma espécie de campanha velada pela reeleição de Bolsonaro em 2002 ao dizer que o atual presidente não foi acusado de corrupção e responder com "o brasileiro precisa saber votar" uma pergunta sobre a candidatura Lula.
"Houve alguma acusação de corrupção contra o presidente Bolsonaro? Ele se elegeu para combater a corrupção. E de todas as maneiras estão tentando atribuir alguma coisa a ele e não conseguiram até agora. Deviam deixar o presidente governar, mas não deixam. Quem critica Bolsonaro faz isso de manhã, de tarde, de noite. Tudo atribuem ao presidente. Tudo de errado. Será que você aguentaria isso? Que reação eu teria? Não sei. E alguma coisa boa atribuem? O Brasil está crescendo, a economia está crescendo, mesmo com todas as dificuldades. Não tenho dúvida de que estão esticando demais a corda", disse.
Ao definir o que seria "esticar a corda", o general insinua que as Forças Armadas podem agir contra opositores do governo.
"Quem está contra logicamente vai esticar essa corda, como se diz, até que ela arrebente. Esses, na verdade, são os que não têm muito apreço pela democracia, os que defendem ditaduras e apoiam ditadores. Quando a corda vai arrebentar? Isso eu não sei".
A entrevista repugnante ganhou repercussão e está sendo escrachada nas redes.