Em depoimento à CPI do Genocídio na manhã desta terça-feira (11), o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, criticou o "capitalismo selvagem" ao ser indagado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre a questão da dependência do Brasil em relação a outros países - como a Índia e a China - para produção de insumos para fabricação da vacina contra a Covid-19.
"Entendo que a produção de insumos essenciais - e aí eu amplio esse conceito para qualquer campo da atividade humana - se deu por comprovado no advento da pandemia que é estratégico, é soberano e é essencial. A opinião que tenho, senador Renan Calheiros, é que ao longo de décadas e décadas de capitalismo, que qualifico como selvagem, que visava o lucro exclusivamente da empresa, a mão de obra barata e a atratividade fiscal, fábricas e mais fábricas foram colocadas em países onde havia atratividade fiscal, mão de obra mais barata, fartura de insumos. Isso foi muito bem num período não pandêmico. Quando houve a pandemia e 7 bilhões de pessoas querem o mesmo produto, essas potências que fabricam esses insumos, claro, demonstraram para o resto do mundo o quando foi errado investir nesse conceito", disse Barra Torres, estendendo seu raciocínio à economia em geral, o que confronta com a visão neoliberal de Paulo Guedes e do governo Jair Bolsonaro.
"Portanto, transforme-se o país amanhã ou depois em autossuficiente nesses insumos e em quaisquer outros insumos essenciais - e a pandemia está mostrando bem isso - será um fator de força e soberania nacional, com certeza", completou.
Sputnik V
Na sequência, Barra Torres foi indagado sobre a suspensão do processo de autorização da vacina russa Sputnik V. Ele elogiou o imunizante, mas disse que o processo está parado porque falta o envio de informações pela União Química, responsável pelo medicamento no Brasil.
"A autorização de uso emergencial da Sputnik V encontra-se em análise na agência sob a submissão de documentos da empresa União Química. No momento de hoje, estamos com a análise parada para que a União Química forneça as informações", afirmou Barra Torres.
O presidente da Anvisa, no entanto, ressaltou que é "importante que se entenda que esse processo de interrupção ou negativa excepcional de importação não deve somar a essa marca, Sputnik V, nenhum pensamento negativo".
"Isso faz parte do processo", disse Barra Torres. "O que conclamo é que tão logo essa situação seja - e esperamos que seja - resolvida é que não se credite a essa marca, a essa vacina, qualquer característica ruim. É uma preocupação ligada a essa movimentação que amanhã ou depois a população tenha receio dessa vacina. Não é nossa intenção".