O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, teceu duras críticas a Jair Bolsonaro e à maneira como o presidente conduz o enfrentamento à pandemia no Brasil através de texto enviado a amigos no WhatsApp. As informações são da CNN Brasil e do Conjur.
Mello elogiou o lockdown decretado em Araraquara (SP) pelo prefeito Edinho Silva (PT), que reduziu consideravelmente os casos de Covid-19 e praticamente zerou as mortes relacionadas à doença, ao mesmo tempo em que subiu o tom contra Bolsonaro pelo fato do presidente ter se recusado a decretar um lockdown nacional.
De acordo com o ex-ministro, ao se recusar a apoiar medidas restritivas, Bolsonaro encampa um "gesto insensato" que configuraria um "repulsivo e horrendo 'grito necrófilo". Entre outros adjetivos, Mello classificou o presidente como "despreparado" e usou expressões como "Sumo Sacerdote que desconhece tanto o valor e a primazia da vida quanto o seu dever ético de celebrá-la incondicionalmente" e "monarca presidencial".
"O gesto insensato do Presidente, opondo-se ao 'lockdown' nacional, em clara demonstração própria de quem não possui o atributo virtuoso do 'statesmanship' [estadista]. De outro lado, essa conduta negacionista torna imputável ao Chefe de Estado, em face de seu inegável despreparo político e pessoal para o exercício das altas funções em que investido, a nota constrangedora e negativa, reveladora daquela 'obtusidade córnea' de que falava Eça de Queirós, em 1880, no prefácio da 3ª edição de sua obra 'O Crime do Padre Amaro', no contexto da célebre polêmica que manteve com o nosso Machado de Assis", diz um trecho do texto.
Sobre Araraquara, Mello escreveu: "Seguiu as recomendações sensatas e apoiadas em relevantíssima orientação fundada em respeitável conhecimento científico emanadas da OMS (ONU), da Opas, dos EUA, da Itália, da França, da Alemanha, do Reino Unido e de outros países governados por políticos responsáveis que repudiam as insensatas (e destrutivas) teses negacionistas".
Celso de Mello se aposentou do cargo de ministro do STF em outubro de 2020 e foi sucedido por Nunes Marques, indicado por Bolsonaro.