Evangélica, Benedita da Silva é contra liberação de cultos: "devemos praticar nossa fé na segurança de nossas casas"

Deputada se posiciona contrariamente ao ministro do STF, Nunes Marques, que liberou celebrações religiosas coletivas justamente no momento mais agudo da pandemia: "Nossas vidas são sagradas e em nossos corpos físicos está a Igreja de Cristo"

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Comemorada por bolsonaristas, a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques, que no último sábado (3) atendeu a uma associação de juristas evangélicos e liberou a realização de missas e cultos religiosos presenciais em pleno pico da pandemia no país, vem sendo rechaçada por figuras do campo progressista ligadas à religiosidade.

Uma delas é a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ). Evangélica e membra da Assembleia de Deus desde 1968, a parlamentar falou à Fórum sobre a decisão de Nunes Marques, que ainda passará por análise do plenário do STF após divergência do ministro Gilmar Mendes, que analisou uma outra ação e proibiu a realização das cerimônias coletivas.

"A decisão monocrática do ministro Kassio Nunes, do STF, visou atender o interesse das igrejas e templos, mas não considerou o risco que a inevitável aglomeração dos cultos e missas representa para os fiéis", disse a petista.

Segundo Benedita, que destaca o alto número de mortes no país relacionadas à Covid-19 e o patamar assustador de cerca de 3 mil óbitos por dia, as pessoas devem evitar aglomerações onde o risco de contaminação é altíssimo, como em cultos religiosos.

"Nossas vidas são sagradas e em nossos corpos físicos está a Igreja de Cristo. Nesse gravíssimo momento da crise sanitária, é na segurança de nossas casas onde devemos praticar nossa fé sem risco para nós e nossas famílias. Acredito que isso não deve causar nenhum prejuízo ao atendimento social e humanitário que as Igrejas estão praticando", declarou a ex-governadora.

"Além disso, de acordo com as previsões para os próximos dias, o Brasil pode atingir cinco mil mortes por dia, pois ainda não temos vacina o suficiente para toda a população, e precisaremos, mais do que nunca, da solidariedade de todos e todas nesse delicado momento", completou a petista.

Divergência

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta segunda-feira (5) manter a proibição de cultos e missas durante a pandemia de Covid-19 ao negar uma ação movida pelo PSD. Com a decisão, Mendes contraria a liminar concedida pelo ministro Kassio Nunes Marques no sábado, quando o magistrado decidiu atender a uma associação de juristas evangélicos. A decisão de Mendes já era aguardada.

“O Decreto do Estado de São Paulo de alguma maneira impede que os cidadãos respondam apenas à própria consciência, em matéria religiosa? A restrição temporária de frequentar eventos religiosos públicos traduz ou promove, dissimuladamente, alguma religião? A interdição de templos e edifícios equiparados acarreta coercitiva conversão dos indivíduos para esta ou aquela visão religiosa? Certamente que não”, apontou Mendes em sua decisão.

O ministro negou uma Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) apresentada pelo PSD que alegava que os decretos que restringiam a presença em igrejas e templos seriam inconstitucionais.

“É patente reconhecer que as medidas de restrição à realização de cultos coletivos, por mais duras que sejam, são não apenas adequadas, mas necessárias ao objetivo maior de realização da proteção da vida e do sistema de saúde”, sustentou o magistrado.

Como a posição de Mendes colide com a de Marques, o tema será apreciado no plenário do Supremo. O presidente da Corte, Luiz Fux, marcou o julgamento para quarta-feira (7). O ministro Marco Aurélio Mello criticou publicamente a decisão de Nunes Marques.