O discurso "pró-ciência" do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vinha sendo utilizado até então para polarizar com o presidente Jair Bolsonaro, deu lugar nesta segunda-feira (1) a uma fala sobre "esperança, fé e oração".
Foi com essas palavras que o tucano anunciou sua decisão de transformar as igrejas em atividades essenciais para que elas possam ficar abertas em meio ao período mais grave da pandemia do coronavírus no estado de São Paulo e também no Brasil.
A atitude de manter igrejas abertas enquanto especialistas pedem medidas mais duras contra o contágio do coronavírus atende a uma clara pressão do setor evangélico, em boa parte bolsonarista, que desde o início da pandemia critica as medidas de isolamento social e ataca prefeitos e governadores que adotaram tais medidas.
Doria, que desde o início da crise sanitária foi alvo desses ataques bolsonaristas, resolveu anunciar que tornaria igrejas atividades essenciais menos de uma semana após o pastor Silas Malafaia, um das lideranças evangélicas mais próximas de Bolsonaro, ameaçar o governador com resposta nas "urnas". O tucano sabe bem o peso do eleitorado bolsonarista e evangélico, visto que chegou a utilizar o slogan "Bolsodoria" para conseguir se eleger em 2018.
"Não só as igrejas evangélicas, a contribuição das religiões em tempo de pandemia no apoio psicológico, simplesmente impagável . Nas eleições vamos dar uma resposta a Dória", escreveu Malafia no dia 25 de fevereiro ao compartilhar uma notícia de que o tucano teria, supostamente, vetado um projeto de lei que reconhecia a atividade religiosa como essencial.
Nesta segunda-feira (1), então, apenas 4 dias após o tuíte de Malafaia, Doria apelou ao discurso da "fé" para anunciar que as igrejas permaneceriam abertas como atividades essenciais, o que gerou até mesmo elogios do pastor bolsonarista, até então crítico contumaz do tucano.
"PARABÉNS GOVERNADOR DÓRIA! Temos discordâncias políticas. Reconhecer as religiões como atividade essencial , dentro das normas sanitárias , você acertou ! As religiões tem um papel terapêutico insubstituível em tempo de pandemia e calamidades . DEUS LIVRE O BRASIL DESSA PRAGA!", escreveu Malafaia.
Críticas
Apesar da comemoração de Malafaia e de parte do setor evangélico, a atitude de Doria em tornar as igrejas atividades essenciais em São Paulo gerou uma série de críticas nas redes sociais diante do alerta que especialistas vem fazendo em prol de um lockdown imediato em todo o país.
Confira a repercussão.